quinta-feira, 5 de março de 2009

A LENDA DE MERCÚRIO E SUA INTERPRETAÇÃO

MITOLOGIA: MERCÚRIO.


Mercúrio (Hermes) nasceu da união entre Zeus (Júpiter) e Maia (Uma ninfa, a sétima filha de Atlas)...

Era costume da maioria das deusas na antiguidade darem a luz em cavernas... E foi numa caverna que Maia deu a Luz Mercúrio.

Maia envolveu o bebê com faixas e ali o deixou adormecido... As mães daqueles tempos (deusas, ninfas, naiades, dríades, etc.) não tinham tanto cuidado com seus rebentos como as mães de hoje. Logo após o parto deixavam seus filhinhos aos cuidados da grande mãe Gaia, para que ela os criasse, e essa grande Mãe Generosa sempre encontrava meios de levar a cabo tão difícil tarefa, usando para isso as habilidades amorosas e carinhosas das ninfas, naiades dríades e outros espíritos femininos da natureza.

De noite Mercúrio inquietou-se, mexeu-se tanto que as faixas afrouxaram e ele pode sair liberto delas. O céu estava lindo, salpicado de estrelas e uma bela lua espreitava entre as nuvens... O primeiro animal que Mercúrio viu foi uma tartaruga que comia plantas silvestres e flores... Depois o menino prodígio saiu andando pela praia próxima e em meio ao marulhar das ondas espumantes ouviu um som estranho e melodioso que despertou logo sua curiosidade. Andou em direção ao som e percebeu que era o casco oco de uma tartaruga marinha morta em cujo interior havia alguns filamentos de músculos e nervos secos e bem esticados... O vento soprava pelo oco da tartaruga fazendo vibrar esses fios produzindo um som estranho, mas agradável aos ouvidos... O menino prodígio pegou aquele brinquedo inusitado, levou-o a caverna, e ali com suas habilidades manuais divinas, servindo-se de pedras afiadas como ferramentas de corte, gravetos, caniços, etc., formou a primeira lira de sete cordas. Saiu novamente dentro da noite e pôs-se a tocá-la e a cantar com voz suave e melodiosa... A música que saia de suas mãos e de seus lábios era tão doce, tão cheia de encanto e bela que as aves e animais da noite aquietavam-se para ouvi-lo. Após sua primeira apresentação musical guardou na caverna seu brinquedo e foi explorar o terreno para ver o que encontrava pela frente. Mas antes teve o cuidado de apagar todos os seus rastros... Andou, andou pela noite fresca sentindo a brisa que acariciava seus cabelos e foi parar num terreno cercado por bambus onde havia muitas cabeças de gado, de propriedade de Apolo, seu irmão. Pegou doze bois, cem novilhas e um touro e partiu com eles dentro da noite, mas antes teve o cuidado de amarrar nos traseiros dos animais folhas de bambus para ir apagando seus rastros. Um pastor viu tudo e Mercúrio foi até ele e, com seus poderes mágicos, fez aparecer uma bolsa com cinqüenta moedas de ouro. Ofereceu-a ao pastor para que ele ficasse calado se alguém lhe perguntasse pelo roubo daqueles animais.

O pastor aceitou o ouro em troca do silêncio.

Mercúrio foi até uma planície distante no sopé de uma montanha, escolheu onze dos deuses olímpicos, e abateu doze bois para sacrificá-los aos deuses (o décimo segundo era para ele mesmo, pois já se considerava um deus inteligente, astuto e sagaz.). Toda essa atividade despertou-lhe a fome, e ele abateu mais duas novilhas, fez surgir um fogo rolando rapidamente com as duas mãos um pau roliço sobre uma casca seca de árvore, acendeu uma fogueira e assou as novilhas para devorá-las... Depois ocultou o restante dos animais num outro cercado feito por ele com arbustos diversos, a fim de negociá-los posteriormente com possíveis criadores de gado e voltou à caverna, sempre tendo o cuidado de apagar seus rastros... Lá chegando acomodou-se novamente entre as faixas e adormeceu... Maia, sua mãe, chegou de manhã para visitá-lo e amamentá-lo e encontrou-o adormecido como o mais inocente dos anjinhos, nem suspeitando de todas as suas peripécias e artimanhas noturnas...

Apolo logo deu pela falta do seu gado roubado e foi procurá-lo por toda parte, montado em seu carro dourado puxado por quatro cavalos brancos alados, encontrando o mesmo pastor que, temeroso de ser castigado por Apolo, deu de bandeja o nome do ladrão que roubara seu gado. Imediatamente foi até a caverna de Mercúrio e contou a Maia, sua mãe, o ocorrido. Maia disse em altos brados a Apolo: --- Como ousas acusar um bebê de ter roubado mais de cem cabeças de gado! Ó injusto! Não vês que ele é apenas um bebezinho inocente! Mercúrio aproveitava a deixa para fazer um ar da mais pura inocência, mas de vez em quando virava de lado para rir da cara de Apolo, que estava bem aborrecido com o acontecimento. Apolo não se deu por satisfeito e foi até Zeus reclamar por justiça. Zeus, o mais justo dos deuses do Olimpo, sempre calmo e sereno, pediu à Maia para trazer-lhe Mercúrio. Este se pôs a falar e defender-se com tanta habilidade e talento de orador que Zeus ficou perplexo, já sabendo que fora ele mesmo (Mercúrio) o ladrão do gado de Apolo, mas ao mesmo tempo já planejando em seu íntimo nomeá-lo como o mensageiro dos deuses e dos mortais... Nessas alturas já havia crescido um par de asas nos calcanhares de Mercúrio, prenunciando sua capacidade de voar no vento com a rapidez dos pássaros...

Zeus disse a Apolo para acalmar-se e esperar alguns dias pois ele próprio iria providenciar para que tudo o que era seu lhe fosse devolvido novamente!

Mercúrio dali para frente passou a andar por toda parte sempre empunhando sua lira e encantando a todos com suas belíssimas melodias, e um dos que mais se extasiava era Apolo. Porém Mercúrio, ao encontrar o pastor que o havia denunciado a Apolo, transformou-o, como castigo, numa estátua de pedra...

Apolo possuía um bastão mágico de ouro capaz de fazer brotar fogo em qualquer canto da terra ou água de qualquer rocha ou deserto, apaziguar brigas entre feras raivosas, curar doenças, rejuvenescer os velhos, expulsar pragas para longe e inclusive transformar pedras comuns em pedras preciosas... Mercúrio estava de olho naquele bastão...

Um belo dia em que Mercúrio tocava sua lira para os deuses do Olimpo, Apolo que era o que mais apreciava suas músicas, propôs-lhe uma troca... Daria a Mercúrio o bastão em troca da lira. Mercúrio aceitou instantaneamente! Pegou seu bastão mágico e saiu por aí transformando todas as pedras que encontrava pelo caminho em opalas, rubis, esmeraldas, diamantes, safiras, e fazendo esguichar lindas fontes de águas cristalinas pelos caminhos... Ao passar por uma estrada viu duas serpentes brigando entre si. Uma era branca e outra negra. Meteu o bastão entre as duas e elas se acalmaram enrolando-se harmoniosamente no bastão, dando origem ao bastão de Hermes, ou o Caduceu. Essas duas serpentes sabiam todos os segredos das Ciências Ocultas do bem e do mal, inclusive foi uma delas que incentivou Eva a comer do fruto da árvore do conhecimento e depois dá-lo a Adão... E aquelas duas serpentes mágicas ensinaram o que sabiam a Mercúrio, tornando-o o mais sábio e habilidoso mestre entre os deuses e mortais... Foi ele quem gerou o grande instrutor chamado Hermes Trimegisto, que ensinou aos homens as Ciências Ocultas, ou Herméticas, dando origem a todas as escolas de filosofias do mundo, inclusive as Sociedades Secretas como a Maçonaria, a Alquimia, a Magia, as Escolas de Meditação como a Yoga, o Zem, e as de Ocultismo como os Rosacruzes, os Gnósticos, a Teosofia, e a maioria das organizações espiritualistas do mundo.


INTERPRETAÇÃO


Não resta dúvida que essa lenda de Mercúrio (Hermes) extraída da Mitologia Greco-latina proveio de Escolas Secretas do mundo antigo, e nela estão contidos sábios ensinamentos com respeito à Psicologia Humana e a Astrologia. Como se pode notar há várias chaves nessa história que podem abrir as portas do conhecimento psicológico e esclarecer brilhantemente aqueles que tiverem a sagacidade de interpretar esses símbolos. Mercúrio nasceu de Maia (que significa “MÃE”), ou MATRIZ, (Maria, mãe de Jesus, é um nome que tem sua origem também nessa raiz). Maia tem a ver com IMAGINAÇÃO, capacidade do homem de formar imagens em seu interior. A caverna onde nasceu Mercúrio é uma alusão representativa para mostrar que os processos de imaginação, raciocínio, pensamento, (elementos mercurianos) se dão no íntimo, ocultamente, no interior do seu crânio, (uma caverna). As faixas que Maia usou para envolver o bebê simbolizam que a mente do homem está envolta em faixas vibratórias, os planos mentais, emocionais e etéricos, os quais irão se abrindo à medida que o espírito for evoluindo e que, na verdade, não são senão os planos internos por onde o pensamento caminha até chegar ao corpo-físico do homem. As primeiras atividades de Mercúrio, desde o seu nascimento, se deram à noite, para simbolizar que a mente do homem funciona nas profundezas obscuras de sua alma antes de vir à luz pelas palavras, gestos e ações. Mercúrio “mexeu-se muito” mostrando que a mente é inquieta, sempre se movendo de um lado a outro... O primeiro animal visto por Mercúrio foi uma tartaruga. São diversas as interpretações desse símbolo. O pensamento funciona na cabeça do homem, dentro do cérebro. A carcaça da tartaruga pode bem simbolizar o crânio do homem, que é tão duro quanto o casco desse animal... Tal como a tartaruga tem seis orifícios por onde saem seus membros, assim o crânio do homem tem também seis buracos por onde saem os órgãos sensoriais que o ligam ao mundo, ou seja, dois olhos, dois ouvidos, um nariz e uma boca... A tartaruga é um dos bichos mais lentos... Há até uma fábula que conta a história de uma corrida entre a tartaruga e a lebre (animal tido como um dos mais velozes) e quem ganhou foi a tartaruga, (a mais lenta) graças as suas artimanhas e inteligência que eram bem superiores às da lebre. Porque esse símbolo de lentidão? Ora, se examinarmos as reações de um homem diante de um acontecimento qualquer, vê-se que a mente (Mercúrio) é sempre a última a chegar... Vou dar um exemplo. Suponhamos que você vai andando por uma calçada e logo à frente há um cão dentro de um quintal cercado o qual está de tocaia, prestes a pregar-lhe um susto. Quando você passa pelo portão o cão dá um salto em sua direção e late ferozmente! Você se assusta, sente medo, dá um pulo, o coração dispara e às vezes você pode até dar um berro e gritar um palavrão! Só depois de tudo isso ter acontecido é que sua mente (Mercúrio) conclui que não há perigo algum porque o cão está preso! Isso simboliza que a Mente pode ser o melhor instrumento do homem para a aquisição do conhecimento e sua divulgação, para a comunicação através da fala e da escrita, para efetuar comércios e negociações, mas ao mesmo tempo é o mais lento diante dos revezes e contratempos do mundo! Os outros órgãos tais como o Centro Instintivo, Centro Motor, Centro Emocional são bem mais rápidos que o Centro Intelectual (Mente).

A tartaruga vista por Mercúrio comia flores. Flores são os órgãos sexuais das plantas, de onde surgem as sementes e algumas vezes os frutos. Assim também a Mente alimenta-se da Energia Sexual acumulada dentro do homem. Os maiores sábios da humanidade, os grandes filósofos, santos, gênios, geralmente foram homens de poucas atividades sexuais, alguns até celibatários... (Isto porque é sabido que a energia sexual economizada vai para o cérebro e a laringe, para torná-los mais fortes e prodigiosos!) E é graças ao pensamento e às palavras, que tudo se espalha (sementes) e acontece (frutos) no mundo.

Mercúrio saiu andando por uma praia. Este é o símbolo do limiar dos mundos invisíveis, (o mar) com seus mistérios (o desconhecido) e a praia é feita de grãos de areia (símbolo do tempo fragmentado, horas, minutos, segundos)... A ampulheta de Cronos é feita de vidro e areia.

Nessa mesma praia Mercúrio ouviu um som.... O som é uma característica própria do Mundo Mental (juntamente com as formas, principalmente as geométricas e abstratas... (As cores são características mais do Mundo Astral, ou Mundo Emocional, ou dos Desejos). Esse som despertou sua curiosidade – uma qualidade própria da mente. A mente é curiosa por excelência. Quer saber tudo! Quer bisbilhotar em tudo... E é graças a essa qualidade que vai aprendendo as coisas do mundo... Mercúrio sempre apaga seus rastros para representar que é totalmente invisível... Ninguém sabe o que se passa na cabeça das pessoas, alguns nem da sua própria... E as moedas de ouro, o que significam? Mercúrio é realmente o causador e inventor do dinheiro. É o deus do comércio e também do suborno... (subornou o pastor para não entregá-lo à Apolo.) Seu segundo ato importante (o primeiro foi a invenção da lira) foi roubar os bois de Apolo. A mente é ladra por excelência. Rouba o tempo todo. Rouba as energias dos órgãos, dos Centros, principalmente do Centro Sexual, rouba informações de toda parte, rouba o conhecimento... Quando alguém estuda um livro, está se apropriando de conhecimentos alheios, que depois faz pequenas modificações e assina como sendo de sua autoria... Mas esse tipo de roubo não é considerado crime perante as Leis Divinas, porque Jesus, o Filho de Deus e representante do Espírito Humano aqui na Terra (a cruz), perdoou um ladrão, e elevou-o ao Céu consigo... Outra qualidade de Mercúrio é sua capacidade de negociar... De comprar, vender e trocar. Ele vive negociando e trocando as coisas o tempo todo... Mas a maior qualidade de Mercúrio é sua eloqüência! É o deus da comunicação! O mensageiro dos deuses! Na verdade a Mente (Mercúrio) é que liga os Centros superiores (deuses) aos centros inferiores (mortais) Ele também liga o Espírito ao corpo.

Com o bastão de Apolo nas mãos ele transforma pedras comuns em pedras preciosas... Isto simboliza a capacidade que o sábio tem de tirar dos acontecimentos corriqueiros da vida cotidiana muita sabedoria, a qual é transformada em pensamentos, ditos espirituosos, frases, provérbios, histórias, fábulas e ensinos. Fazer brotar fontes nas rochas simboliza criar Escolas de Sabedoria... As Escolas são fontes de ensinamentos para todos os que têm sede de saber.

Enfim, Mercúrio é a Mente do Homem, seu Intelecto. É também o “MENSAGEIRO DOS DEUSES”. O deus dos mestres e professores, da Inteligência, da sagacidade, da comunicação, (rege os escritores e comunicadores em geral). É o deus dos comerciantes, matemáticos, dos geômetras, dos engenheiros, dos filósofos, intelectuais, dos ladrões, dos subornados e subornadores.

Abel Fernandes

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