sábado, 9 de junho de 2007

O PRINCÍPIO DE TUDO

No começo era o Caos, narra o poeta Hesíodo. Caos significa: "massa rude e disforme, necessitando de estrutura, o espaço vazio, onde dormem as forças latentes, que darão origem a tudo e a todas as coisas."
O Caos é o vazio total, algo que ainda não foi organizado, onde jazem os elementos primordiais em seu estado original.
De repente aparece a primeira realidade sólida: Gaia, a Terra. Ela oferece ao Caos um sentido. Limita-o. Instala nele o chão, palco da maravilha e da miséria da vida. Logo após surge a Noite, escuridão profunda. E nas profundezas da Terra faz-se o Érebo, a morada das sombras.
Sobre Gaia paira um espaço vazio. Para preenchê-lo ela cria um ser igual a si mesma, capaz de cobri-la por inteiro. Este ser é Urano, que quer dizer: Céu Estrelado. Depois cria também as montanhas, as Ninfas e o Mar.
Da noite surge o Éter, ar luminoso e o Dia.
Estimulada por Eros (o amor) Gaia, a Terra, une-se a Urano, gerando com ele muitos e muitos filhos. Esses filhos são gigantes, criaturas monstruosas, que possuem um só olho e dezenas de braços.
Da união entre o Caos e a Noite surge o Destino. Uma divindade misteriosa e Toda-Pode-rosa. É cego, e seus decretos são gravados num livro de bronze.
Os deuses podem retardar as decisões do Destino, porém nunca as anular. Para auxiliar o Destino surgem as Parcas, que eram três: Cloto, Láquesis e Átropos. "Dos páramos olímpicos, observam não só o destino dos mortais, mas também o movimento das esferas celestes, e a harmonia do Universo."
"No seu palácio, os destinos dos homens estão gravados sobre ferro e bronze, de sorte que nada os pode apagar."
"Imutáveis nos desígnios, as três irmãs continuamente fiam a trama misteriosa da Vida, e coisa alguma será capaz de comovê-las ou fazer com que mudem o curso imutável do fado."
Cloto, nome que significa: "faço andar a roda," do verbo grego kloothoo, parece ser a menos velha das três. É ela que sustenta e faz girar os fios dos destinos humanos. Representam-na vestida com longos trajes de diversas cores, trazendo na cabeça uma coroa de sete estrelas, com uma roca de fiar que desce do céu a terra.
Láquesis deriva o seu nome do vocábulo grego lannchanoo, que quer dizer "tiro a sorte," e é a Parca que põe o fio no fuso. Suas vestes são semeadas de estrelas.
Átropos, a terceira, cujo nome significa "a que não pode ser abrandada," ou "a imutável". corta impiedosamente o fio que mede a duração da vida de cada mortal. É representada como sendo a mais idosa das três, com roupas negras e fúnebres. O nome: Parca tem sua origem ligada ao particípio do verbo latino: "parere" que quer dizer: dar a luz.
Eram as três Parcas que davam aos que nasciam um bom ou um mau destino.
Voltando ao Princípio das coisas, quem rei-nava era Urano, o Céu Estrelado. Era um deus viril, que não cansava de fecundar Gaia, a Terra. Como foi dito, de suas uniões com Gaia nasciam gigantes, criaturas mons-truosas. Esses gigantes perambulavam pelo mundo, transformando-o num antro de criaturas hediondas e violentas. Gaia não tem sossego, e para intensificar ainda mais seus sofrimentos, Urano passa a lançá-los nas profundezas obscuras da Terra, para não ter que olhá-los!
Gaia sofre com a fecundidade contínua que lhe impõe Urano. (Desde que se unira a ele seu ventre não parara de gerar um só instante). Resolve vingar-se. Reúne os Titãs, seus filhos, e pede-lhes que a ajudem destronar Urano. Nenhum deles tem coragem. Somente Saturno aceita a incumbência da mãe, pois já estava revoltado e farto de vê-la sofrer tanto. Saturno (Cronos) promete que se vingará. Gaia presenteia-o com uma afiada foice, que vinha construindo há muito tempo, com terrível objetivo. Quando Urano se aproxima de Gaia para fecundá-la, Saturno atira-se sobre ele e trava violenta luta. De repente ouve-se um grito pavoroso que ecoa pelos quatro cantos do Universo. Os testículos de Urano voam pelo espaço. O sangue jorra sobre a terra e sobre as águas, e mais uma vez Gaia é fecundada.
No mar os órgãos com o sémem expelido formam uma alvíssima espuma, da qual emerge Vênus, deusa do amor e da beleza.
Na terra o sangue cria as Melíades, Ninfas dos carvalhos, e as Erínias, vingadoras de crimes semelhantes.
Saturno passa a governar. Une-se a Réia, sua irmã. Porém fica sabendo, por intermédio de uma profecia, que um dos seus filhos homens há de despojá-lo do cetro. E ocupará seu lugar no trono. Para evitar isto ele passa a devorar seus fi-lhos. Surgem, então, a Morte, o Sono, os Sonhos e a Velhice.
A Morte é uma divindade infernal, filha da Noite, que a concebeu sozinha. Essa deusa, ini-miga implacável da espécie humana, era odiosa mesmo aos imortais. Representam-na com o rosto pálido e desfeito, olhos fechados, coberta de véus e com uma foice na mão.
O Sono é filho de Érebo e da Noite. Era o pai dos sonhos. É conhecido também com o nome de Hípnos. Seu palácio encontra-se num antro ina-cessível aos raios do sol e cuja entrada era obstruída por imensos tufos de papoulas e de outras plantas soporíferas. O rio do esquecimento corria através desse palácio, e outro ruído não se ouvia além do doce e leve murmúrio de suas águas. Nesse palácio, num leito de ébano cercado de cortinas negras e guarnecido de finos cobertores de penas de coruja, repousava esse tranqüilo deus. Segurava na sua mão um corno e na outra um dente de elefante. Os Sonhos, seus filhos, volteavam ao seu redor.
Morfeu, seu principal ministro, mantinha silêncio perpétuo e absoluto nessa sombria morada.
Os Sonhos eram em tão grande número como as areias do mar. Os três principais, Morfeu, Fobetor e Pantaso só habitavam palácios. Os outros freqüentavam o povo, sob formas ora agradáveis, ora assustadoras. Uns eram falsos, outros verdadeiros. Os primeiros saiam do inferno por uma porta de chifre, os outros por uma porta de marfim. Os agradáveis eram representados com asas de borboletas e os outros com asas de morcegos.
E a Velhice era também filha do Érebo e da Noite. Figuravam-na sob o traço de uma anciã, vestida de negro ou coberta de folhas mortas trazendo na mão um copo e apoiando-se num bastão.
Morfeu, o mais importante dos filhos do Sono, sempre tomava o aspecto de um homem. Ninguém era tão hábil como ele para assumir a figura, o rosto, o jeito e a voz de quem queria re-presentar. Figuravam-no com asas de borboleta com uma papoula na mão, com a qual tocava aqueles que queria adormecer.
O segundo filho do sono era Fobetor- o que inspira horror, medo, temor.
E o terceiro era Pantaso, que significa sombrio, triste, melancólico.
Esta é a primeira parte da Mitologia.
Essa parte é subdividida em duas grandes partes. A primeira diz respeito ao reinado de Urano, e a segunda se refere a ascensão de Saturno e a queda de Urano.
A terceira parte, que será abordada depois, trata da tomada de Júpiter ao poder. Júpiter destrona Saturno e ordena o universo definitivamente. Cria uma nova raça de deuses, mais belos, inteligentes, organizados e espiritualizados; mais harmoniosos e controlados.
Agora passaremos a interpretação da primeira parte.

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