sábado, 9 de junho de 2007

2a PARTE

Na primeira parte da Mitologia vimos que Urano foi o primeiro deus a reinar e povoou o planeta de gigantes. O segundo foi Saturno, o qual silenciou e paralisou o mundo; trouxe o Sono, a Velhice, a Morte e a Terra tornou-se um lugar muito triste...
As duas deusas que existiam nessa época, Gaia e Réia, viviam mergulhadas em profunda melancolia...
Isso durou até que Júpiter nasceu, cresceu, se fez forte, poderoso e com a ajuda dos Cíclopes (gigantes com um só olho na testa) e dos Hecatônquiros (gigantes fortíssimos e monstruosos com cem braços e cinqüenta cabeças) destronou Saturno e assumiu o papel de rei universal.
Como foi visto anteriormente, tudo co-meçou com o Caos.
Quando um bebê vem ao mundo é como se ele brotasse do Caos... Nada sabe, nada pode, nada pensa, nada fala... É algo frágil, indefeso, um pequeno caos em miniatura. Seu corpo é o único ponto de referência para sentir-se vivo; graças a ele sente fome, dores, prazeres e é assim que tem consciência de si como ser vivente.
Os espiritualistas sabem que todo bebê é clarividente e na Astrologia Urano é um dos planetas que produzem no homem as faculdades de clarividência. (O outro planeta é Netuno). Só que é uma clarividência passiva, descontrolada... O mundo, em sua volta, é algo imenso, colossal, infinito, por assim dizer, e ele, como Gaia, é apenas um "pedacinho de terra" nadando nesse oceano de infinitude...
Logo o mundo exterior começa a impressioná-lo, fecundá-lo, gerar nele sensações, sentimentos, impressões. As pessoas que o rodeiam são seus "mestres", seus "hierofantes" e tudo o que provêm deles assume caráter gigantesco em seu psiquismo infantil.
Ele é apenas um serzinho indefeso que só tem a sensação de que existe e está vivo por causa do seu pequenino corpo.
A vida, para ele, é um fluir contínuo, sem tempo, sem antes nem depois... Tudo é um eterno agora, porém, à medida que vai crescendo o tempo (Saturno) vai surgindo em sua existência.
Gradualmente, a princípio, quase que imperceptivelmente, o tempo vai aparecendo e junto com ele uma outra realidade: as proibições, as restrições, os bloqueios. Quase todos os seus impulsos são cerceados pelos adultos e não demorará para que Saturno se apodere totalmente da situação e passe a reinar, castrando Urano e expulsando-o de vez...
Daí para frente Saturno comandará tudo!
O homem poderá viver até o fim dos seus dias debaixo dos domínios de Saturno; escravo de tudo: do tempo, das dificuldades, da miséria, do materialismo, do sono, da velhice e da morte!
Só através do nascimento de Júpiter em sua vida é que o homem poderá ter chance de libertar-se!
O NASCIMENTO DE JÚPITER
Réia, esposa de Saturno, com os olhos já secos de tantas lágrimas derramadas pelos filhos devorados pelo pai cruel, vai consultar um oráculo. E fica sabendo que o fim de seus dias tristes está próximo, pois do seu ventre nascerá uma criança que, quando adulta, reinará como senhor do mundo dos homens e dos deuses; destronará seu pai, trará ordem ao Universo, criará o Olimpo e inaugurará um período de muita paz, alegria e intensa felicidade. Réia volta para casa feliz e exultante pois sabe que os oráculos desse tempo não mentem jamais.
Cheia de esperanças, não tarda a engravidar.
Logo nos primeiros dias sente-se envolvida por uma nuvem de felicidade e tudo em sua volta parece mais alegre e colorido.
O céu se torna mais azul, as árvores mais verdes, as flores mais radiosas e perfumadas... Os pássaros cantam com mais harmonia e suas horas são cheias de irisados sonhos...
Um dia sente que está chegando momento de dar a luz. Enquanto Saturno dorme placidamente, Réia envolve-se em véus e secretamente transportada por uma nuvem, desce do céu em direção a Terra. Dirige-se até um vale profundo. Depois de andar algum tempo por esse vale, penetra numa espessa floresta, e depois de muito caminhar, já não suportando mais as dores do parto, encontra uma gruta oculta em meio a uma densa folhagem e ali põe no mundo o deus que será chamado Júpiter. Em seguida, como precisava lavar a criança e não houvesse água por perto, ajoelha-se e suplica a Terra que a ajude. Imediatamente, próximo ao recém-nascido, brota uma fonte de águas frescas, cristalinas e cantarolantes. A soberana deusa lava o filho, envolve-o em macio tecido azul e branco e sai andando alegre pela floresta pensando em como salvá-lo da voragem do pai. Não se cansa em deleitar-se com a beleza do tenro menino. Júpiter esboça um belo sorriso, pois já nascera sorridente e não chorou, como as outras crianças, quando nasceu... Seus olhos são de um azul celeste e dentro deles cintila uma luz rósea. Seus cabelos são louros, cacheados e irradiam um bri-lho dourado semelhante ao sol da manhã.
De repente, eis que lhe aparece como que surgida do nada, uma linda ninfa de rosto alegre, com olhos ternos, irradiando bondade e amor, e a feliz soberana lhe entrega o filho ordenando-lhe que o leve a uma grande ilha chamada Creta, onde deverá escondê-lo numa profunda e larga gruta oculta em meio a um bosque onde se erguem, além de belas árvores frutíferas, gigantescos car-valhos.
Depois, rapidamente, Réia volta para casa, pensando num plano para enganar Saturno. Por sorte este ainda dorme...Ela pega, então, uma pedra do tamanho de um bebê, envolve-a com panos, vai até Saturno, acorda-o e diz-lhe: "Eis aqui seu filho!" O deus do tempo, sempre mal-humorado, com um ar de indiferença, pega o embrulho, e sem ao menos olhar para o que tem dentro, devora-o imediatamente, com os panos e tudo... Depois volta a dormir.
Na gruta para onde o pequeno Júpiter foi levado, moram várias ninfas e assim que o gracioso rebento penetra nesse ambiente sagrado elas o a-colhem felicíssimas e perplexas pela beleza inefá-vel da criança. O recém-nascido dorme inocentemente e elas o colocam num berço natural escavado na rocha cercado de cristais de quartzo rosa coberto por um macio musgo salpicado de pequenas flores coloridas.
Uma cabra, de nome Amaltéia, dá-lhe um puríssimo leite e daí em diante serve-lhe de ama-de-leite. Essa cabra é um animal muito especial, pois tem os pelos alvos como o algodão, os olhos cor de mel e os chifres de marfim.
Além do leite o bebê alimenta-se também de néctar, ambrosia e mel de abelhas silvestres.
A ambrosia é trazida por maravilhosas pombas brancas vindas de longínquas e etéreas paragens e o néctar divino da imortalidade chega por meio de uma poderosa águia de penas de ouro, bico de prata, olhos de safira e garras de ferro polido e brilhante.
Como toda criança sadia, de vez em quando Júpiter chora, porém o seu choro é diferente das outras crianças...É um som melodioso, que brota de sua garganta como se fosse o lamento de uma flauta doce, e ecoa pela floresta cativando a atenção dos pássaros que se calam para ouvi-lo.
Com medo que Saturno possa ouvir o choro do filho e descobrir que foi enganado, as ninfas chamam os Curetes, guerreiros dançarinos, que prontamente vêm dançar em volta do bebê para acalmá-lo e baterem ritmicamente com as espadas de aço brilhante sobre seus escudos de bronze polido a fim de abafar o choro da criança...
Júpiter cresce na companhia desses alegres guerreiros e com eles aprende muitos movimentos estratégicos de luta bem como a manejar a espada e o escudo. À medida que cresce vai tornando-se forte, ágil, rápido na corrida, ousado e intrépido... Dos Curetes assimila a ousadia, a intrepidez, a coragem e das ninfas a doçura, a delicadeza, a a-mabilidade e o otimismo contagiante.
Quando atinge certa idade é enviado a um lugar onde só vivem sacerdotes e músicos. Aí ele aprende tudo sobre rituais, invocações, magia, os mistérios da música e a manejar todos os instrumentos musicais.
Um dia, num acidente, a cabra Amaltéia quebra um dos chifres e Júpiter transforma-o na "Cornucópia Sagrada" de onde se derramam as bênçãos da abundância e da fortuna. Tempos depois a cabra morre e Júpiter tira-lhe a pele, que é mágica, e passa a usá-la tornando-se invulnerável com ela... Finalmente, como prova de gratidão, Júpiter presta uma última homenagem à cabra transformando-a numa das constelações.
Quando Júpiter atinge a idade adulta fica sabendo de tudo sobre seu pai Saturno; de sua crueldade e tirania, de seu orgulho, prepotência, pessimismo e resolve destroná-lo. Primeiro vai consultar sua prima Metis, a qual se tornara sua primeira amante e conselheira. Metis é muito inteligente, habilidosa, e conhece certos segredos ocultos da Natureza. Possui várias virtudes e qualidades e é uma poderosa feiticeira, conhecedora dos poderes das plantas e das flores mágicas. Ela prepara para Júpiter uma beberagem misteriosa aconselhando-o a entregá-la secretamente à Gaia para que ela no momento oportuno e de forma astuciosa, faça seu esposo Saturno bebê-la. Essa beberagem tem o poder de tornar a pessoa que a ingerir muito tranqüila, pacífica, obediente, sugestionável e, além disso, provoca vômitos incontroláveis.
Júpiter permanece oculto vigiando o pai e no momento em que este bebe a poção preparada por Metis, ele (Júpiter) pula em sua frente e o obriga a vomitar todos os seus irmãos, que são em número de cinco, ou seja, Héstia, Dêmeter, Hera, Hades (Plutão) e Possêidon (Netuno).
A palavra "Hestia" significa: "Altar com fogo". "Deméter" :"Terra-Mãe". "Hera" quer di-zer: "Protetora, Guardiã". "Hades": "Mundo Oculto, Invisível" e "Possêidon" "Dono, Senhor". Com a ajuda desses cinco irmãos Júpiter domina o pai e o obriga a exilar-se provisoriamente em algum canto obscuro e longínquo do Universo.
Depois escolhe uma bela e soberba montanha e ali cria o Olimpo, lugar maravilhoso cheio de belos palácios feitos com o mais fino mármore, e magníficos bosques e jardins. Reúne todos os seus irmãos e deuses e coloca-os cada um em seu devido lugar conforme seu caráter e predileção. Casa-se com a bela Hera (Juno) e vai morar no Olimpo com sua divina família.

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