quinta-feira, 5 de março de 2009

A LENDA DE MERCÚRIO E SUA INTERPRETAÇÃO

MITOLOGIA: MERCÚRIO.


Mercúrio (Hermes) nasceu da união entre Zeus (Júpiter) e Maia (Uma ninfa, a sétima filha de Atlas)...

Era costume da maioria das deusas na antiguidade darem a luz em cavernas... E foi numa caverna que Maia deu a Luz Mercúrio.

Maia envolveu o bebê com faixas e ali o deixou adormecido... As mães daqueles tempos (deusas, ninfas, naiades, dríades, etc.) não tinham tanto cuidado com seus rebentos como as mães de hoje. Logo após o parto deixavam seus filhinhos aos cuidados da grande mãe Gaia, para que ela os criasse, e essa grande Mãe Generosa sempre encontrava meios de levar a cabo tão difícil tarefa, usando para isso as habilidades amorosas e carinhosas das ninfas, naiades dríades e outros espíritos femininos da natureza.

De noite Mercúrio inquietou-se, mexeu-se tanto que as faixas afrouxaram e ele pode sair liberto delas. O céu estava lindo, salpicado de estrelas e uma bela lua espreitava entre as nuvens... O primeiro animal que Mercúrio viu foi uma tartaruga que comia plantas silvestres e flores... Depois o menino prodígio saiu andando pela praia próxima e em meio ao marulhar das ondas espumantes ouviu um som estranho e melodioso que despertou logo sua curiosidade. Andou em direção ao som e percebeu que era o casco oco de uma tartaruga marinha morta em cujo interior havia alguns filamentos de músculos e nervos secos e bem esticados... O vento soprava pelo oco da tartaruga fazendo vibrar esses fios produzindo um som estranho, mas agradável aos ouvidos... O menino prodígio pegou aquele brinquedo inusitado, levou-o a caverna, e ali com suas habilidades manuais divinas, servindo-se de pedras afiadas como ferramentas de corte, gravetos, caniços, etc., formou a primeira lira de sete cordas. Saiu novamente dentro da noite e pôs-se a tocá-la e a cantar com voz suave e melodiosa... A música que saia de suas mãos e de seus lábios era tão doce, tão cheia de encanto e bela que as aves e animais da noite aquietavam-se para ouvi-lo. Após sua primeira apresentação musical guardou na caverna seu brinquedo e foi explorar o terreno para ver o que encontrava pela frente. Mas antes teve o cuidado de apagar todos os seus rastros... Andou, andou pela noite fresca sentindo a brisa que acariciava seus cabelos e foi parar num terreno cercado por bambus onde havia muitas cabeças de gado, de propriedade de Apolo, seu irmão. Pegou doze bois, cem novilhas e um touro e partiu com eles dentro da noite, mas antes teve o cuidado de amarrar nos traseiros dos animais folhas de bambus para ir apagando seus rastros. Um pastor viu tudo e Mercúrio foi até ele e, com seus poderes mágicos, fez aparecer uma bolsa com cinqüenta moedas de ouro. Ofereceu-a ao pastor para que ele ficasse calado se alguém lhe perguntasse pelo roubo daqueles animais.

O pastor aceitou o ouro em troca do silêncio.

Mercúrio foi até uma planície distante no sopé de uma montanha, escolheu onze dos deuses olímpicos, e abateu doze bois para sacrificá-los aos deuses (o décimo segundo era para ele mesmo, pois já se considerava um deus inteligente, astuto e sagaz.). Toda essa atividade despertou-lhe a fome, e ele abateu mais duas novilhas, fez surgir um fogo rolando rapidamente com as duas mãos um pau roliço sobre uma casca seca de árvore, acendeu uma fogueira e assou as novilhas para devorá-las... Depois ocultou o restante dos animais num outro cercado feito por ele com arbustos diversos, a fim de negociá-los posteriormente com possíveis criadores de gado e voltou à caverna, sempre tendo o cuidado de apagar seus rastros... Lá chegando acomodou-se novamente entre as faixas e adormeceu... Maia, sua mãe, chegou de manhã para visitá-lo e amamentá-lo e encontrou-o adormecido como o mais inocente dos anjinhos, nem suspeitando de todas as suas peripécias e artimanhas noturnas...

Apolo logo deu pela falta do seu gado roubado e foi procurá-lo por toda parte, montado em seu carro dourado puxado por quatro cavalos brancos alados, encontrando o mesmo pastor que, temeroso de ser castigado por Apolo, deu de bandeja o nome do ladrão que roubara seu gado. Imediatamente foi até a caverna de Mercúrio e contou a Maia, sua mãe, o ocorrido. Maia disse em altos brados a Apolo: --- Como ousas acusar um bebê de ter roubado mais de cem cabeças de gado! Ó injusto! Não vês que ele é apenas um bebezinho inocente! Mercúrio aproveitava a deixa para fazer um ar da mais pura inocência, mas de vez em quando virava de lado para rir da cara de Apolo, que estava bem aborrecido com o acontecimento. Apolo não se deu por satisfeito e foi até Zeus reclamar por justiça. Zeus, o mais justo dos deuses do Olimpo, sempre calmo e sereno, pediu à Maia para trazer-lhe Mercúrio. Este se pôs a falar e defender-se com tanta habilidade e talento de orador que Zeus ficou perplexo, já sabendo que fora ele mesmo (Mercúrio) o ladrão do gado de Apolo, mas ao mesmo tempo já planejando em seu íntimo nomeá-lo como o mensageiro dos deuses e dos mortais... Nessas alturas já havia crescido um par de asas nos calcanhares de Mercúrio, prenunciando sua capacidade de voar no vento com a rapidez dos pássaros...

Zeus disse a Apolo para acalmar-se e esperar alguns dias pois ele próprio iria providenciar para que tudo o que era seu lhe fosse devolvido novamente!

Mercúrio dali para frente passou a andar por toda parte sempre empunhando sua lira e encantando a todos com suas belíssimas melodias, e um dos que mais se extasiava era Apolo. Porém Mercúrio, ao encontrar o pastor que o havia denunciado a Apolo, transformou-o, como castigo, numa estátua de pedra...

Apolo possuía um bastão mágico de ouro capaz de fazer brotar fogo em qualquer canto da terra ou água de qualquer rocha ou deserto, apaziguar brigas entre feras raivosas, curar doenças, rejuvenescer os velhos, expulsar pragas para longe e inclusive transformar pedras comuns em pedras preciosas... Mercúrio estava de olho naquele bastão...

Um belo dia em que Mercúrio tocava sua lira para os deuses do Olimpo, Apolo que era o que mais apreciava suas músicas, propôs-lhe uma troca... Daria a Mercúrio o bastão em troca da lira. Mercúrio aceitou instantaneamente! Pegou seu bastão mágico e saiu por aí transformando todas as pedras que encontrava pelo caminho em opalas, rubis, esmeraldas, diamantes, safiras, e fazendo esguichar lindas fontes de águas cristalinas pelos caminhos... Ao passar por uma estrada viu duas serpentes brigando entre si. Uma era branca e outra negra. Meteu o bastão entre as duas e elas se acalmaram enrolando-se harmoniosamente no bastão, dando origem ao bastão de Hermes, ou o Caduceu. Essas duas serpentes sabiam todos os segredos das Ciências Ocultas do bem e do mal, inclusive foi uma delas que incentivou Eva a comer do fruto da árvore do conhecimento e depois dá-lo a Adão... E aquelas duas serpentes mágicas ensinaram o que sabiam a Mercúrio, tornando-o o mais sábio e habilidoso mestre entre os deuses e mortais... Foi ele quem gerou o grande instrutor chamado Hermes Trimegisto, que ensinou aos homens as Ciências Ocultas, ou Herméticas, dando origem a todas as escolas de filosofias do mundo, inclusive as Sociedades Secretas como a Maçonaria, a Alquimia, a Magia, as Escolas de Meditação como a Yoga, o Zem, e as de Ocultismo como os Rosacruzes, os Gnósticos, a Teosofia, e a maioria das organizações espiritualistas do mundo.


INTERPRETAÇÃO


Não resta dúvida que essa lenda de Mercúrio (Hermes) extraída da Mitologia Greco-latina proveio de Escolas Secretas do mundo antigo, e nela estão contidos sábios ensinamentos com respeito à Psicologia Humana e a Astrologia. Como se pode notar há várias chaves nessa história que podem abrir as portas do conhecimento psicológico e esclarecer brilhantemente aqueles que tiverem a sagacidade de interpretar esses símbolos. Mercúrio nasceu de Maia (que significa “MÃE”), ou MATRIZ, (Maria, mãe de Jesus, é um nome que tem sua origem também nessa raiz). Maia tem a ver com IMAGINAÇÃO, capacidade do homem de formar imagens em seu interior. A caverna onde nasceu Mercúrio é uma alusão representativa para mostrar que os processos de imaginação, raciocínio, pensamento, (elementos mercurianos) se dão no íntimo, ocultamente, no interior do seu crânio, (uma caverna). As faixas que Maia usou para envolver o bebê simbolizam que a mente do homem está envolta em faixas vibratórias, os planos mentais, emocionais e etéricos, os quais irão se abrindo à medida que o espírito for evoluindo e que, na verdade, não são senão os planos internos por onde o pensamento caminha até chegar ao corpo-físico do homem. As primeiras atividades de Mercúrio, desde o seu nascimento, se deram à noite, para simbolizar que a mente do homem funciona nas profundezas obscuras de sua alma antes de vir à luz pelas palavras, gestos e ações. Mercúrio “mexeu-se muito” mostrando que a mente é inquieta, sempre se movendo de um lado a outro... O primeiro animal visto por Mercúrio foi uma tartaruga. São diversas as interpretações desse símbolo. O pensamento funciona na cabeça do homem, dentro do cérebro. A carcaça da tartaruga pode bem simbolizar o crânio do homem, que é tão duro quanto o casco desse animal... Tal como a tartaruga tem seis orifícios por onde saem seus membros, assim o crânio do homem tem também seis buracos por onde saem os órgãos sensoriais que o ligam ao mundo, ou seja, dois olhos, dois ouvidos, um nariz e uma boca... A tartaruga é um dos bichos mais lentos... Há até uma fábula que conta a história de uma corrida entre a tartaruga e a lebre (animal tido como um dos mais velozes) e quem ganhou foi a tartaruga, (a mais lenta) graças as suas artimanhas e inteligência que eram bem superiores às da lebre. Porque esse símbolo de lentidão? Ora, se examinarmos as reações de um homem diante de um acontecimento qualquer, vê-se que a mente (Mercúrio) é sempre a última a chegar... Vou dar um exemplo. Suponhamos que você vai andando por uma calçada e logo à frente há um cão dentro de um quintal cercado o qual está de tocaia, prestes a pregar-lhe um susto. Quando você passa pelo portão o cão dá um salto em sua direção e late ferozmente! Você se assusta, sente medo, dá um pulo, o coração dispara e às vezes você pode até dar um berro e gritar um palavrão! Só depois de tudo isso ter acontecido é que sua mente (Mercúrio) conclui que não há perigo algum porque o cão está preso! Isso simboliza que a Mente pode ser o melhor instrumento do homem para a aquisição do conhecimento e sua divulgação, para a comunicação através da fala e da escrita, para efetuar comércios e negociações, mas ao mesmo tempo é o mais lento diante dos revezes e contratempos do mundo! Os outros órgãos tais como o Centro Instintivo, Centro Motor, Centro Emocional são bem mais rápidos que o Centro Intelectual (Mente).

A tartaruga vista por Mercúrio comia flores. Flores são os órgãos sexuais das plantas, de onde surgem as sementes e algumas vezes os frutos. Assim também a Mente alimenta-se da Energia Sexual acumulada dentro do homem. Os maiores sábios da humanidade, os grandes filósofos, santos, gênios, geralmente foram homens de poucas atividades sexuais, alguns até celibatários... (Isto porque é sabido que a energia sexual economizada vai para o cérebro e a laringe, para torná-los mais fortes e prodigiosos!) E é graças ao pensamento e às palavras, que tudo se espalha (sementes) e acontece (frutos) no mundo.

Mercúrio saiu andando por uma praia. Este é o símbolo do limiar dos mundos invisíveis, (o mar) com seus mistérios (o desconhecido) e a praia é feita de grãos de areia (símbolo do tempo fragmentado, horas, minutos, segundos)... A ampulheta de Cronos é feita de vidro e areia.

Nessa mesma praia Mercúrio ouviu um som.... O som é uma característica própria do Mundo Mental (juntamente com as formas, principalmente as geométricas e abstratas... (As cores são características mais do Mundo Astral, ou Mundo Emocional, ou dos Desejos). Esse som despertou sua curiosidade – uma qualidade própria da mente. A mente é curiosa por excelência. Quer saber tudo! Quer bisbilhotar em tudo... E é graças a essa qualidade que vai aprendendo as coisas do mundo... Mercúrio sempre apaga seus rastros para representar que é totalmente invisível... Ninguém sabe o que se passa na cabeça das pessoas, alguns nem da sua própria... E as moedas de ouro, o que significam? Mercúrio é realmente o causador e inventor do dinheiro. É o deus do comércio e também do suborno... (subornou o pastor para não entregá-lo à Apolo.) Seu segundo ato importante (o primeiro foi a invenção da lira) foi roubar os bois de Apolo. A mente é ladra por excelência. Rouba o tempo todo. Rouba as energias dos órgãos, dos Centros, principalmente do Centro Sexual, rouba informações de toda parte, rouba o conhecimento... Quando alguém estuda um livro, está se apropriando de conhecimentos alheios, que depois faz pequenas modificações e assina como sendo de sua autoria... Mas esse tipo de roubo não é considerado crime perante as Leis Divinas, porque Jesus, o Filho de Deus e representante do Espírito Humano aqui na Terra (a cruz), perdoou um ladrão, e elevou-o ao Céu consigo... Outra qualidade de Mercúrio é sua capacidade de negociar... De comprar, vender e trocar. Ele vive negociando e trocando as coisas o tempo todo... Mas a maior qualidade de Mercúrio é sua eloqüência! É o deus da comunicação! O mensageiro dos deuses! Na verdade a Mente (Mercúrio) é que liga os Centros superiores (deuses) aos centros inferiores (mortais) Ele também liga o Espírito ao corpo.

Com o bastão de Apolo nas mãos ele transforma pedras comuns em pedras preciosas... Isto simboliza a capacidade que o sábio tem de tirar dos acontecimentos corriqueiros da vida cotidiana muita sabedoria, a qual é transformada em pensamentos, ditos espirituosos, frases, provérbios, histórias, fábulas e ensinos. Fazer brotar fontes nas rochas simboliza criar Escolas de Sabedoria... As Escolas são fontes de ensinamentos para todos os que têm sede de saber.

Enfim, Mercúrio é a Mente do Homem, seu Intelecto. É também o “MENSAGEIRO DOS DEUSES”. O deus dos mestres e professores, da Inteligência, da sagacidade, da comunicação, (rege os escritores e comunicadores em geral). É o deus dos comerciantes, matemáticos, dos geômetras, dos engenheiros, dos filósofos, intelectuais, dos ladrões, dos subornados e subornadores.

Abel Fernandes

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

O autor, Abel Fernandes, foto feita em Porto Velho, em 2006


MITOLOGIA - Conheça a história de um homem que não gostava de árvores, e o que lhe aconteceu...

A HISTÓRIA DE ERISICTON*
*(Erisicton significa, traduzido diretamente das raízes gregas,
“peixe revoltado, desobediente.”)

Adaptação de Abel Fernandes

Na antiga Grécia mitológica existia um rei chamado Erisicton. Era orgulhoso, desprezava os deuses, não levava incensos nem oferendas aos seus altares. Nessa época, os homens mais sábios e prudentes faziam isso periodicamente. Era antiético, antesocial e contraproducente não adorar os deuses. Um homem razoável, de boa índole, cumpridor dos seus deveres, fosse rei ou plebeu, tinha o seu deus predileto, pessoal, (ou vários) e fazia-lhe as abluções necessárias, os sacrifícios próprios, como acontece hoje com a maioria das pessoas, que têm seus santos favoritos e de vez em quando vão as igrejas rezarem por eles e acender-lhes velas. Quem não adora os santos, adora o Deus único, Cristo, Buda, Alá, ou Baco, (os alcoólatras) ou algum mestre ou guru da antiguidade. Era, repito, perigoso e imprudente, naqueles tempos remotos, e falta de tino, não adorar algum deus. E deuses é que não faltavam na Grécia antiga! Mas o rei Erisicton queria ser diferente, do contra. Aliás, no mundo sempre houve e haverá pessoas assim...
Diz uma lenda que certa vez esse rei resolveu desmatar um bosque consagrado a Ceres, a deusa da agricultura, da fartura, protetora das plantas comestíveis e das árvores em geral. (A palavra cereais vêm de Ceres) Nesse bosque havia plantas muito antigas e a que mais se destacava era um gigantesco carvalho centenário, cujo tronco era tão grosso que era preciso doze dríades (ninfas dos bosques e das árvores) de mãos dadas para abraçá-lo por inteiro. Em torno desse carvalho sagrado havia danças, festejos, e em seus galhos eram pendurados filetes de lãs, fitas de seda coloridas, coroas de flores, votos diversos dos devotos da deusa Ceres, e o povo venerava esse gigante do reino vegetal, mas o rei Erisicton nem se importava com isso... Talvez por ciúme, por capricho, ou por outro motivo qualquer desconhecido, resolveu derrubar esse carvalho! Por mais que se lhe aconselhassem a não cometer tamanho desatino, de nada adiantou. Deu ordem aos escravos para derrubá-lo. Os escravos ficaram temerosos, assustados, desejosos de não terem que cumprir essas ordens, mas o rei furioso agarrou o machado e partiu para cima do carvalho, para mostrar que não havia perigo algum em derrubar uma simples árvore... (era mesmo um ateu desmiolado!) E disse, bem alto para todos ouvirem: “--- Esta pode ser a única árvore que a deusa ama. Pode até ser a deusa própria, não importa. Sua copa de folhas, seus galhos, bolotas, seu cerne, devem ir para o chão hoje!” Assim dizendo, Erisicton cravou o machado em seu tronco energicamente. O tronco estremeceu e parecia gemer por causa do ferimento. As folhas e suas bolotas empalideceram, os longos ramos perderam a cor... E quando o machado de aço abriu um profundo corte no tronco, o sangue jorrou por ali! Como se fosse do pescoço de um touro sacrificado. Todos ficaram espantados, perplexos, estupefatos. Um dos súditos do rei tentou detê-lo, mas pagou com a própria vida sua devoção à árvore! O machado do rei foi direto em seu crânio, matando-o na hora. Depois, mais encolerizado ainda, voltou-se contra a árvore, golpeando-a violentamente. Até que, do interior do carvalho ouviu-se uma voz: “--- Senhor! Sou uma ninfa! Muito querida por Ceres, e moro aqui há muito tempo... Rogo-lhe, não corte este carvalho, que é minha morada!” O rei fingiu que nada ouviu, e lascou outra machadada no tronco. “---Faço agora minha última profecia, que servirá de conforto para mim. Rei Erisicton, será punido e cairá em desgraça brevemente!” Nem mesmo esse vaticínio fez o rei parar, e o carvalho, enfraquecido pelos golpes de machado, puxado por cordas e correntes de ferro, tombou, caindo estrondosamente por cima de dezenas de outras árvores do bosque, matando-as tristemente. E todas as irmãs da ninfa do carvalho ficaram confusas, desorientadas, com a perda de suas casas, e choraram. Vestiram-se de preto e foram até Ceres. “--- Castigue esse desalmado, esse cruel assassino de árvores, esse ímpio Erisicton!” Disseram em coro à deusa formosa, e esta fez sinal positivo com a cabeça. Diante desse gesto os campos com seus grãos amadurecidos tremeram... Pássaros, borboletas, mariposas e insetos voaram por todos os lados. Até as corujas da noite saíram em revoada louca. Ceres premeditou, então, um castigo terrível ao rei, já que ele não lhe tinha respeito pelas árvores. Ela o cortaria ao meio e o torturaria sem piedade com ajuda de sua irmã, Famine, a pálida deusa da fome. Porém, como Ceres e Famine nunca se encontravam, pois uma é o oposto da outra, Ceres é a fartura, a abundância de alimentos e Famine é a falta total deste, a fome insaciável, e deste modo Ceres mandou chamar uma das oréades (ninfas das montanhas), dizendo-lhe: “---Há um lugar na orla externa da gélida Seitia, um lugar sombrio e árido, totalmente sem árvores, onde não medram milhos, nem grãos, nem relvas, nem folhas verdes, mas o apático Frio ali vive junto com a Palidez e o Medo em companhia da descarnada e ossuda Famine. Diga-lhe que ela deve penetrar em Erisicton, ocultar-se em seu corpo e não permitir que uma das dádivas que trago, a Abundância, lhe dê a satisfação dos seu desejos, mesmo os mais inocentes. O caminho até lá é longo, portanto, use minha carruagem puxada por dragões alados que voam bem alto. Pegando das mãos de Ceres as rédeas, a oréade voou bem alto chegando rapidamente ao topo do Cáusaco. Depois de alguma procura encontrou Famine num campo cheio de pedras, com as unhas cravadas na grama escassa e seus dentes roendo as pedras esverdeadas de musgo... Segundo uma descrição ao pé da letra de Ovídio, seus cabelos eram desgrenhados, seu rosto horrivelmente pálido, seus olhos fundos e encovados, os lábios secos, descoloridos e o pescoço coberto de grossas escamas... A magreza era tanta, a pele tão esticada que deixavam seus ossos e órgãos internos à mostra. O osso ilíaco saltava-lhe no lombo e os magros e murchos seios frementes estavam seguros precariamente pela espinha fina como um graveto seco. Sua magreza era tão acentuada que fazia as juntas parecerem grossas, os joelhos como balões inflados, e os tornozelos pareciam dois canos encaroçados! Mantendo distância de tão medonha criatura, a mensageira de Ceres passou-lhe as orientações e tratou de sair dali o mais rápido possível, devido ao mau cheiro que exalava de Famine e seus roncos de fome. Voou rápido para o alto, sentindo-se instantaneamente aliviada... E rumou os dragões em direção a Tessália. Famine, cujos afazeres são diametralmente opostos aos de Ceres, obedeceu-a prontamente. Voou nas asas do vento da noite e chegou ao palácio de Erisicton encontrando-o dormindo profundamente. Envolveu-o rapidamente com seus esqueléticos braços, preencheu-o com o que ela era, soprou em sua boca um hálito mortal que entrou-lhe pela garganta e a fome insaciável foi plantada em suas veias e artérias... Após cumprido seu dever voou daquelas terras cobertas de farta vegetação em direção ao seu estéril lar, cheio de cavernas vazias e escuras... E o Sono, com suas asas leves e cinzentas, ainda flutuando sobre o rei Erisicton, ficou mais brando, e o rei sonhou com comida, suas mandíbulas fechavam-se em torno de nada, e ele cravava os dentes no vazio, e sua garganta só engolia ar... Acordou esfaimado, clamou ao mar e a terra para trazerem tudo o que pudessem oferecer-lhe, e logo pilhas e pilhas de comidas amontoaram-se em sua frente, e após devorar tudo ainda assim resmungava que estava morrendo de fome. O que havia ali era suficiente para alimentar um país inteiro, mas por mais que comesse, não deixando nada para ninguém, nem uma migalha, ainda assim sentia-se faminto e insaciado.
Quanto mais come, mais quer comer! Tão insaciável quanto o oceano, ou o fogo, ou um abismo. Mesmo comendo sem parar, parece apenas que ingeriu alguns aperitivos... Um fogo consome suas entranhas e queima sua garganta. Toda sua fortuna se vai rapidamente em gastos com comida. Ficou na total penúria, na mais negra miséria, restando-lhe apenas a filha. Tenta vendê-la, mas ela se recusa a ser escrava de um senhor. Ela reza por Netuno, o deus que já fora seu amante e implora para salvá-la. O deus do mar ouve suas preces e, para salvá-la, dá-lhe a aparência e as roupas de um pescador. O homem ao qual o pai a havia vendido, não a reconhece... pergunta-lhe se viu uma moça por ali, e a filha de Erisicton responde “---Não senhor, não vi nada, não tirei os olhos da água... Estava muito ocupado. Realmente, não havia nenhuma moça por aqui, nem ninguém, apenas eu...” O homem, intrigado, confuso, acredita nela, a agradece e ainda lhe deseja boa pescaria... Logo, com a ajuda de Netuno, volta a antiga aparência. E Erisicton, vendo que a filha tinha o poder de se transformar, vende-a de novo para outro homem, e depois, para vários proprietários, porque ela escapava de todos, ora como égua, ora como novilha, ou ainda como pássaro, pois tinha esse poder dado por Netuno, e assim sempre garantia comida para o pai. Até que chegou ao ponto de não haver mais nada para o rei comer, apenas sua própria carne. E ele, infeliz, devorou o próprio corpo! E desapareceu no nada! Esse foi o seu castigo por ter devastado o bosque e cortado o gigantesco carvalho consagrado a Ceres!
Esta lenda, sem dúvida alguma, é um aviso, uma advertência séria para o homem não devastar as matas da Terra! Caso contrário, atrairá a fome para si e para todos em seu redor!

Bibliografia:
Metamorfoses – Ovídio, trad. Vera Lucia Leitão Nagyar, ed. Madras
Dicionário Mítico-Etimológico Da Mitologia Grega – Juanito de Souza Brandão, ed. Vozes
Enciclopédia Clásica de Mitologia, Religión, Biografias, Literatura, Arte y Antiguidades -- versión castellana de José Goñi Urriza, Libreria El Ateneo Editorial Buenos Aires

sábado, 9 de junho de 2007



O QUE ERA A MITOLOGIA * (ver: Dicionário de Mitologia Esotérica

no final deste Blog)


Atualmente a Mitologia perdeu muito de sua originalidade. O que temos hoje não passa de um amontoado de lendas fragmentadas, interpoladas e desvirtuadas. Tantas foram às idéias errôneas acrescentadas que se torna muito difícil separar o verdadeiro do falso. Contudo, mesmo assim, é possível extrair alguma coisa de valor.
As lendas que compõem a Mitologia foram escritas numa época muito remota. Mais de mil anos a. C.. Nesse tempo existiam algumas Escolas de Mistérios. Eram organizações filosóficas e religiosas extremamente sérias, dirigidas por homens sábios e evoluídos, chamados de Hierofantes, cuja finalidade era instruir, esclarecer e preparar os indivíduos mais aptos.
Nessas Escolas o homem aprendia a conhe-cer-se a si mesmo e, consequentemente, o Universo em que vivemos. Não só conhecer-se como dominar-se e desenvolver seus poderes latentes. Poderes esses denominados por algumas correntes espiritualistas de "poderes extraordinários".
Quando admitido nessas Escolas era-lhe exigida dedicação absoluta. Tinha que abandonar tudo: seus apegos, negócios, famílias e dedicar-se de corpo e alma aos ensinos e práticas. Ficava ali algum tempo e quando saia era um indivíduo totalmente diferente. Passara por uma transformação radical. Tornara-se homem novo, iniciado nos Mistérios, auto-suficiente, equilibrado e esclarecido. E os meios utilizados pelos Hierofantes para transmitirem seus ensinos eram através de lendas e representações teatrais, acompanhadas de músicas, declamações, orações, danças e cantos, tudo executado com a participação dos próprios alunos da Escola.
Os Hierofantes nunca falavam abertamente. Usavam uma linguagem simbólica, alegórica e os neófitos tinham que descobrir por si próprios os significados daquelas lendas. Isso exigia um verdadeiro exercício mental. Uma ginástica da inteligência. Mas os conhecimentos que brotavam dessas fantásticas histórias eram tão retumbantes e admiráveis que jamais se esquecia.
Com o tempo as Escolas desapareceram. Porém ficaram as lendas. E as lendas caíram no domínio popular. Transformaram-se em mitos, em ídolos pagãos. Logo o verdadeiro sentido foi esquecido. Ergueram-se suntuosos templos em homenagem aos deuses. Criaram-se correntes antagônicas. Travaram-se violentas batalhas. Até que surgiu o Cristianismo, para derrubar esses gigantes.
Os Cristãos, com o tempo, conseguiram sobrepujar a majestade dos deuses olímpicos, e eles foram despojados dos seus poderes. Perderam seus privilégios e hoje não passam de simples e inocentes fábulas.
Neste estudo procurar-se-a interpretar alguns símbolos e esclarecer alguns pontos interessantes. O objetivo é buscar descobrir a relação entre a Mitologia e a Psicologia e no decorrer das páginas que seguem veremos que os gregos eram profundos psicólogos, conhecedores de todos os mistérios da alma humana. A Mitologia tem íntima relação com a Astrologia. Mas este é um assunto a ser tratado numa próxima oportunidade.
Antes de tudo é interessante dizer que todas essas lendas e fábulas dizem respeito ao homem e ao Cosmo, porém no momento só serão analisadas as relações delas com o homem. É a historia do próprio homem, suas condições, estados, fraquezas, virtudes, capacidades, o que o ajuda e o que o atrapalha, enfim, tudo o que esta relacionado com sua estadia neste planeta, e qual o caminho para libertar-se de seus sofrimentos, apegos, ignorância e incapacidades.
Todos os deuses e semideuses, os heróis e monstros; todas as forças inteligentes e cegas, em suma, todo o cortejo de personagens fantásticas da Mitologia estão dentro do próprio homem. E esta é a chave para se compreender esses símbolos.
A princípio tudo parece confuso, enigmático, porém, a medida que o estudo se desenrola, as coisas vão se tornando mais claras e objetivas. Primeiramente há que se colocar cada deus em seu devido lugar.
Começaremos pelo princípio de tudo.



O PRINCÍPIO DE TUDO

No começo era o Caos, narra o poeta Hesíodo. Caos significa: "massa rude e disforme, necessitando de estrutura, o espaço vazio, onde dormem as forças latentes, que darão origem a tudo e a todas as coisas."
O Caos é o vazio total, algo que ainda não foi organizado, onde jazem os elementos primordiais em seu estado original.
De repente aparece a primeira realidade sólida: Gaia, a Terra. Ela oferece ao Caos um sentido. Limita-o. Instala nele o chão, palco da maravilha e da miséria da vida. Logo após surge a Noite, escuridão profunda. E nas profundezas da Terra faz-se o Érebo, a morada das sombras.
Sobre Gaia paira um espaço vazio. Para preenchê-lo ela cria um ser igual a si mesma, capaz de cobri-la por inteiro. Este ser é Urano, que quer dizer: Céu Estrelado. Depois cria também as montanhas, as Ninfas e o Mar.
Da noite surge o Éter, ar luminoso e o Dia.
Estimulada por Eros (o amor) Gaia, a Terra, une-se a Urano, gerando com ele muitos e muitos filhos. Esses filhos são gigantes, criaturas monstruosas, que possuem um só olho e dezenas de braços.
Da união entre o Caos e a Noite surge o Destino. Uma divindade misteriosa e Toda-Pode-rosa. É cego, e seus decretos são gravados num livro de bronze.
Os deuses podem retardar as decisões do Destino, porém nunca as anular. Para auxiliar o Destino surgem as Parcas, que eram três: Cloto, Láquesis e Átropos. "Dos páramos olímpicos, observam não só o destino dos mortais, mas também o movimento das esferas celestes, e a harmonia do Universo."
"No seu palácio, os destinos dos homens estão gravados sobre ferro e bronze, de sorte que nada os pode apagar."
"Imutáveis nos desígnios, as três irmãs continuamente fiam a trama misteriosa da Vida, e coisa alguma será capaz de comovê-las ou fazer com que mudem o curso imutável do fado."
Cloto, nome que significa: "faço andar a roda," do verbo grego kloothoo, parece ser a menos velha das três. É ela que sustenta e faz girar os fios dos destinos humanos. Representam-na vestida com longos trajes de diversas cores, trazendo na cabeça uma coroa de sete estrelas, com uma roca de fiar que desce do céu a terra.
Láquesis deriva o seu nome do vocábulo grego lannchanoo, que quer dizer "tiro a sorte," e é a Parca que põe o fio no fuso. Suas vestes são semeadas de estrelas.
Átropos, a terceira, cujo nome significa "a que não pode ser abrandada," ou "a imutável". corta impiedosamente o fio que mede a duração da vida de cada mortal. É representada como sendo a mais idosa das três, com roupas negras e fúnebres. O nome: Parca tem sua origem ligada ao particípio do verbo latino: "parere" que quer dizer: dar a luz.
Eram as três Parcas que davam aos que nasciam um bom ou um mau destino.
Voltando ao Princípio das coisas, quem rei-nava era Urano, o Céu Estrelado. Era um deus viril, que não cansava de fecundar Gaia, a Terra. Como foi dito, de suas uniões com Gaia nasciam gigantes, criaturas mons-truosas. Esses gigantes perambulavam pelo mundo, transformando-o num antro de criaturas hediondas e violentas. Gaia não tem sossego, e para intensificar ainda mais seus sofrimentos, Urano passa a lançá-los nas profundezas obscuras da Terra, para não ter que olhá-los!
Gaia sofre com a fecundidade contínua que lhe impõe Urano. (Desde que se unira a ele seu ventre não parara de gerar um só instante). Resolve vingar-se. Reúne os Titãs, seus filhos, e pede-lhes que a ajudem destronar Urano. Nenhum deles tem coragem. Somente Saturno aceita a incumbência da mãe, pois já estava revoltado e farto de vê-la sofrer tanto. Saturno (Cronos) promete que se vingará. Gaia presenteia-o com uma afiada foice, que vinha construindo há muito tempo, com terrível objetivo. Quando Urano se aproxima de Gaia para fecundá-la, Saturno atira-se sobre ele e trava violenta luta. De repente ouve-se um grito pavoroso que ecoa pelos quatro cantos do Universo. Os testículos de Urano voam pelo espaço. O sangue jorra sobre a terra e sobre as águas, e mais uma vez Gaia é fecundada.
No mar os órgãos com o sémem expelido formam uma alvíssima espuma, da qual emerge Vênus, deusa do amor e da beleza.
Na terra o sangue cria as Melíades, Ninfas dos carvalhos, e as Erínias, vingadoras de crimes semelhantes.
Saturno passa a governar. Une-se a Réia, sua irmã. Porém fica sabendo, por intermédio de uma profecia, que um dos seus filhos homens há de despojá-lo do cetro. E ocupará seu lugar no trono. Para evitar isto ele passa a devorar seus fi-lhos. Surgem, então, a Morte, o Sono, os Sonhos e a Velhice.
A Morte é uma divindade infernal, filha da Noite, que a concebeu sozinha. Essa deusa, ini-miga implacável da espécie humana, era odiosa mesmo aos imortais. Representam-na com o rosto pálido e desfeito, olhos fechados, coberta de véus e com uma foice na mão.
O Sono é filho de Érebo e da Noite. Era o pai dos sonhos. É conhecido também com o nome de Hípnos. Seu palácio encontra-se num antro ina-cessível aos raios do sol e cuja entrada era obstruída por imensos tufos de papoulas e de outras plantas soporíferas. O rio do esquecimento corria através desse palácio, e outro ruído não se ouvia além do doce e leve murmúrio de suas águas. Nesse palácio, num leito de ébano cercado de cortinas negras e guarnecido de finos cobertores de penas de coruja, repousava esse tranqüilo deus. Segurava na sua mão um corno e na outra um dente de elefante. Os Sonhos, seus filhos, volteavam ao seu redor.
Morfeu, seu principal ministro, mantinha silêncio perpétuo e absoluto nessa sombria morada.
Os Sonhos eram em tão grande número como as areias do mar. Os três principais, Morfeu, Fobetor e Pantaso só habitavam palácios. Os outros freqüentavam o povo, sob formas ora agradáveis, ora assustadoras. Uns eram falsos, outros verdadeiros. Os primeiros saiam do inferno por uma porta de chifre, os outros por uma porta de marfim. Os agradáveis eram representados com asas de borboletas e os outros com asas de morcegos.
E a Velhice era também filha do Érebo e da Noite. Figuravam-na sob o traço de uma anciã, vestida de negro ou coberta de folhas mortas trazendo na mão um copo e apoiando-se num bastão.
Morfeu, o mais importante dos filhos do Sono, sempre tomava o aspecto de um homem. Ninguém era tão hábil como ele para assumir a figura, o rosto, o jeito e a voz de quem queria re-presentar. Figuravam-no com asas de borboleta com uma papoula na mão, com a qual tocava aqueles que queria adormecer.
O segundo filho do sono era Fobetor- o que inspira horror, medo, temor.
E o terceiro era Pantaso, que significa sombrio, triste, melancólico.
Esta é a primeira parte da Mitologia.
Essa parte é subdividida em duas grandes partes. A primeira diz respeito ao reinado de Urano, e a segunda se refere a ascensão de Saturno e a queda de Urano.
A terceira parte, que será abordada depois, trata da tomada de Júpiter ao poder. Júpiter destrona Saturno e ordena o universo definitivamente. Cria uma nova raça de deuses, mais belos, inteligentes, organizados e espiritualizados; mais harmoniosos e controlados.
Agora passaremos a interpretação da primeira parte.
INTERPRETAÇÃO

A primeira parte refere-se ao período em que o homem dá-se conta de sua ignorância e parte para uma procura, para uma busca.
Antes de entrar para um Trabalho, Religião ou Escola, o homem, psicologicamente, é uma coisa disforme que se assemelha a uma sombra que vaga pela vida sem meta nem objetivo. Dentro dele há um caos. Não há ordem, nem harmonia. A única coisa realmente sólida nele é seu corpo, representado por Gaia, a Terra.
Nas profundezas da Terra, ou seja, dentro do corpo existe Tártaro, região obscura onde moram as sombras, e também Eros que representa a sensualidade , o apego à vida material, o amor pelas coisas do mundo.
De dentro de Caos, isto é, em meio à confusão, brotando do vazio que é o homem surge o Érebo e a Noite.
Isto quer dizer que dentro de si há um amontoado de coisas disformes, sem lógica, sem vida e sem alma. São seus "eus" mecânicos, suas emoções negativas, seus ódios, ressentimentos, mágoas, vícios, maus hábitos, com os quais se identifica e não consegue vê-los tais como são de verdade e por isso seu interior parece uma noite muito escura. Ele não vê nada com clareza. Nada sabe. É um pobre ignorante, arrastado pelo turbi-lhão da vida...
Da união entre a Noite e o Érebo nascem o dia e o Éter (ar luminoso).
Quando o homem percebe sua ignorância; quando consegue observar conscientemente o que se passa em seu interior, então da Noite nasce o Dia. Olhando para dentro de si mesmo lança uma luz em sua alma. E as coisas começam a definir-se dentro de si. E em cima da Terra surge Urano, o Céu estrelado. O homem começa a crer em algo superior. Sua alma enche-se de ideais, representados por um céu estrelado. As Estrelas são as qualidades superiores que existem dentro de si mas que estão muito acima de suas possibilidades. Por elas pode guiar-se na vida. Este símbolo representa também a descoberta que o homem faz da existência de forças superiores controlando seu destino.
Depois surgem as montanhas, que representam momentos de elevação, seus lampejos de Consciência. Cristo sempre subia num monte para pregar . Moisés falou com Deus sobre uma montanha. A arca de Noé pairou sobre um monte. E os rios e o Mar representam as emoções que se agitam como ondas dentro da alma humana. As agitações, os redemoinhos, os desejos, que são como um mar, ora calmo, ora revolto...
Da união entre Gaia,(o corpo físico) e Urano (os ideais do homem e também as influências pla-netárias) nasce uma multidão de gigantes, a maioria deles com um só olho e outros com muitas cabeças e braços. Esses gigantes representam seus desejos, que vêem tudo por um só lado. O lado de sua Religião, Escola, ou Organização Esotérica, que faz com que, apesar do homem não ser mais aquele infeliz que vagava pelo mundo sem rumo, sem meta, ainda se apoia numa base egoísta! Esses gigantes possuem muitos braços, isto é, fazem mil coisas, mas nenhuma delas de forma completa! Ou então possuem muitas cabeças, aqui significando a egrégora, ou corrente da qual ele participa, que é formada por todos os membros de sua ordem religiosa ou filosófica, e também os "eus" diversos e múltiplos que existem dentro dele. Ora é um que fala, ora é outro, e assim por diante.
Surge, então, o Destino!
Destino é uma condição criada pelo homem em seu estado de ignorância. Tudo que o homem pensa, sente, deseja, fala e executa cria e determina sua vida, seus problemas, doenças, dificuldades, azar ou sorte, sua desgraça ou felicidade, sua pobreza ou riqueza. O que um homem é ou possui hoje é o produto do seu passado. Se hoje é pobre, fraco, infeliz, é porque ele mesmo criou essas condições através de pensamentos mal dirigidos, sentimentos mal orientados, palavras mal empregadas, ações deturpadas e impensadas. E se hoje possui alguma coisa a seu favor é porque no passado agiu bem. Pensou, sentiu, desejou, falou e agiu de forma positiva. Isso significa que nada é ao acaso.
A Mitologia fala do Destino como uma criação do Caos e da Noite. Já foi dito que Caos significa confusão de elementos, desordem, desarmonia e a Noite representa ignorância, cegueira, falta de conhecimentos e de iluminação. Enquanto o homem encontra-se nesse estado ele é um joguete do Destino. Um escravo de suas dificuldades, problemas e sofrimentos. E nada pode alterar essa lei. Se um homem não estuda, não se esforça, não trabalha, se não age inteligentemente, só pode aprisionar-se cada vez mais a um mau destino. E nem os deuses podem interferir. Tudo o que um homem pensa, deseja, sente, fala e age, fica gravado em si mesmo, num livro inapagável, e nada pode alterar isso.
Para auxiliar o Destino existem as Parcas, suas filhas. São três. Cloto, Láquesis e Átropos.
A primeira é a que faz girar a roda da vida e fia os destinos humanos. Ela é representada com uma coroa de sete estrelas na cabeça. Essas sete estrelas são os sete Espíritos Planetários que regem a vida de todos os homens aqui na Terra, de cujas influências o homem só pode escapar quando alcança o total conhecimento e domínio de si próprio, ou seja, de seus sete Centros, veículos ou corpos de expressão.
A segunda é a que "tira a sorte". Suas vestes são semeadas de estrelas, para representar as influências dos doze signos do Zodíaco. Conforme os planetas passam pelos signos trazem felicidade ou desgraças ao homem. Trazem prosperidade ou pobreza; fome, devastações, guerra ou épocas de fartura, progresso e paz.
A terceira é a fiandeira, aquela que não pode ser abrandada, a imutável. Representa a lei da causa e efeito, o "destino maduro" ou lei do Karma, de forma que tudo o que o homem cria e faz sempre volta para ele, e nada pode modificar essa lei. Átropos possui roupas negras e fúnebres para re-presentar que é quem mede a duração da vida do homem neste planeta. Corta impiedosamente o fio de cada mortal quando soa a hora, e poder algum proveniente dos deuses ou dos homens pode alterar suas decisões.
Quando o homem nasce, no momento exato em que dá a primeira inspiração, o ar que entra em seus pulmões leva imprimido em si todas as configurações estelares e planetárias do momento de forma que é gravada em sua alma a "ferro e fogo" parte do destino a que estará sujeito pela vida a fora.
Como pode-se notar, a Mitologia é uma filosofia maravilhosa.. Suas lendas falam a respeito do homem. São representações simbólicas e alegóricas de fatos que ocorrem no interior de cada ser humano. Os antigos atribuíram formas às condições psicológicas humanas. Transformaram a alma num palco onde desfilam uma multidão de deuses, monstros, gigantes e seres fantásticos. Por isso o estudo da Mitologia pode ser transformado em pura psicologia!
O REINADO DE SATURNO

Anteriormente viu-se que Urano é que go-vernava tudo. A Terra nesse tempo era assolada por gigantescos seres e não havia paz em parte alguma. Um dos filhos da Terra era Saturno (Cronos, que quer dizer: Tempo).
Saturno estava revoltado e odiava Urano, seu pai, por este causar tanto sofrimento a sua mãe, e então resolveu liquidá-lo, castrando-o. Como Urano era um deus imortal, ao ver-se impossibilitado de criar refugiou-se num canto longínquo do Universo e caiu no esquecimento. Um dia, porém, voltará a recuperar sua virilidade e reconquistará seu lugar no palco da história humana, assunto que será visto depois. No reinado de Saturno surgem a Morte, o Sono, os Sonhos e a Velhice. Por intermédio de uma profecia Saturno fica sabendo que um dos seus filhos há de usurpar-lhe o cetro do poder. Para evitar isso, o deus passa a devorar seus próprios filhos.
INTERPRETAÇÃO
Na primeira etapa, ou seja, no reinado de Urano, a alma do homem era povoada por "gigantes". É a época em que o homem se enche de ideais, crenças, opiniões, e passa a ser escravo dessas forças. Elas vêem tudo por um só lado, ou seja, seus interesses pessoais, religiosos, filosóficos, místicos ou esotéricos. O homem se move compelido por essas poderosas forças... E na sua incansável labuta, não percebe que esses gigantes estão lhe roubando toda a energia e consciência. Um dia porém surge Saturno, que é a "obstrução," a restrição, e o homem começa a dar-se conta que as coisas não são como ele imaginava! Sobrevem, então, uma época de pessimismo, descrença, decepções, porque Saturno é a personalização dessas características.
Na Astrologia Saturno é a porta de entrada para as dificuldade, impedimentos, doenças e desgraças na vida de uma pessoa. Saturno, ou seja, o pessimismo, a descrença, a avareza, sabe que um dos seus filhos o destronará e então passa a devorá-los. Quando Saturno reina dentro do homem ele se torna medroso, tímido e todas as idéias, anseios e aspirações que poderiam libertá-lo e elevá-lo, são abafadas, devoradas, apagadas. Por esse motivo nessa época surge a Velhice, o Sono, os Sonhos e a Morte. O homem morre para qualquer influência superior. Cai num estado de sono profundo. Sua alma se enche de pesadelos, temores e tudo se torna velho dentro dele. Sua virilidade desaparece. Seu entusiasmo murcha como uma flor morta. Aquele seu ímpeto e arrojo de outrora se esfumam dentro de sua alma. Esta condição é simbolizada na bíblia por Jó, pelo sonho do Faraó interpretado por José que viu sete vacas gordas se-rem devoradas por sete vacas magras, e sete espigas repletas serem devoradas por sete espigas mirradas. Sempre depois de uma época de realizações, conquistas, fertilidade sobrevêm dificuldades, impedimentos, fracassos. Ao dia sucede a noite. Ao verão sucede o inverno. O mesmo acontece com as civilizações. Roma, depois de ter atingido seu apogeu, e ter conquistado metade do mundo, foi dominada, vencida, despojada. Depois da época áurea dos gregos, em que a arte, a poesia, a filosofia floresceram abundantemente sem precedentes, surgiu uma época de estagnação e decadência. Assim se passa na vida de todo homem.
O reinado de Urano representa a fase em que o homem emerge de seu estado caótico e parte para uma conquista. Cria condições favoráveis para o desenvolvimento de uma nova personalidade. Sua nova personalidade cresce e toma proporções gigantescas. É um período de progresso, de conquistas, mas depois o homem se cansa de tudo. Começa a responder às influencias de Saturno. Ele mesmo se sente escravo de suas próprias paixões e opiniões, que o aprisionam e o arrastam pela vida. Então resolve parar. Torna-se estéril e perde seu entusiasmo por tudo e por todos. Fica melancólico, pessimista. Passa a "devorar seus próprios fi-lhos..." Daí sobrevêm a "velhice" e a "morte"...
Vamos agora fazer um retrospecto. Tudo começa com o Caos.
Depois surge a Terra e o Céu Estrelado (Gaia e Urano).
O Céu Estrelado se apaixona pela Terra e a fecunda...
Nascem gigantes monstruosos, disformes...
Um dos filhos da Terra castra o pai... E assume o poder.
Porém, ao contrário do pai, que era fogoso e insaciável, ele é mais prudente, comedido e controlado. E detesta crianças. Não quer filhos! Devora-os!...
E a Terra fica um tanto despovoada... Muitos dos seus filhos estão ocultos nas profundezas... Não vêem a luz. E as energias novas que poderiam colorir e embelezar o mundo, alegrá-lo e vivificá-lo, são bloqueadas por Saturno.
Esse período é um dos mais tristes...
A Mitologia tem atraído estudiosos, poetas, artistas, os mais brilhantes e geniais, porque é rica de ensinamentos para quem é capaz de interpretar seus símbolos e ler nas entrelinhas. Não resta dú-vida que as lendas mitológicas vieram do Alto Astral... São mensagens dadas a humanidade, provenientes dos Mestres, e se meditarmos com muita atenção sobre elas recolheremos muitas pedras preciosas de real valor!
Neste resumo existem muitas leis espirituais importantes.
Vamos agora tentar esclarecer algumas.
O Caos é sempre visto como um ESPAÇO escuro, silencioso, um negror mais profundo que a noite mais escura... É o nada! O nada absoluto! Mas dentro desse nada está contido tudo!
Esta é a primeira lei.
TUDO COMEÇA DO NADA!
De acordo com a Psicologia Esotérica, para um homem ser alguma coisa, precisa antes conscientizar-se que é nada! Nada pode! Nada sabe!
É cego, surdo e mudo, psicologicamente.
Os Rosacruzes vêem o Caos como um elemento sagrado. Puro. Não algo morto, mas algo vivo. Porém não nascido ainda. O Incriado.
O Caos sempre existiu e sempre existirá.
Dele vem tudo e para ele tudo voltará.
No Caos está contido o germe, a semente.
O Caos seria a Matéria Prima de onde Deus, o Criador, dá origem a mundos e seres.
Cabalisticamente o Caos é o número zero. É o silêncio.
Em todas as Escolas de Mistérios há uma exigência. O neófito tem que se tornar zero, nulo; reconhecer que é nada e nada sabe.
Na Escola de Pitágoras, uma das mais exigentes, sérias e terríveis da época, o candidato, o aluno iniciante, tinha que permanecer durante, no mínimo, um ano em silêncio. Só ouvir! Era-lhe proibido falar. Só podia obedecer...
Na Maçonaria o candidato em seu primeiro dia de iniciação, no qual se torna um aprendiz, é destituído de tudo o que o liga ao mundo; nome, identidade, títulos, roupagens. Ele é colocado em uma sala escura, totalmente nu, em silêncio... Alguém lhe pergunta: "O que vieste fazer aqui?" E ele responde: "Vim em busca de luz. Quero luz!" Só então as luzes se acendem. E ele é admitido na Ordem.
No início, depois do Caos a primeira realidade que aparece é Gaia, a Terra. A Terra simboliza o corpo físico do homem.
Então é aí que surge o número um. O corpo é uma unidade orgânica, e é nele que vão se desenrolar os acontecimentos mais importantes de sua vida.
O Trabalho inicial é realizado, em princípio, no corpo!
Em todas as Escolas esotéricas tradicionais é exigido que o neófito trabalhe com o corpo. Se nada se realiza no corpo, então, tudo permanece na teoria. Tudo é fantasia e vaidade! Nada muda!
Depois do corpo surge o Céu Estrelado.
Que significa o Céu Estrelado?
São os Mestres! Os Hierofantes! Os Instrutores.
Cada Mestre é uma estrela.
Então, se o aluno está cercado de mestres, é como se ele estivesse cercado por um céu estrelado!
Um dia, no futuro, ele vai ser também uma estrela e ensinar a outros. Mas antes, terá que aprender.
Em muitas Escolas tradicionais, quando o discípulo alcança um grau elevado recebe uma Estrela!
Essa estrela é de cinco pontas e significa o homem dominando os quatro elementos.
Na Escola Rosacruz, quando um discípulo consegue atingir um certo grau, ou seja, quando Cristo nasce em seu coração, ele brilha como uma estrela e atrai os três reis magos.
A SEGUNDA LEI é: os contrários se atraem e a VIDA nasce da união dos contrários.
GAIA é o oposto do CÉU ESTRELADO.
Gaia é um espaço limitado, concentrado, e o Céu em volta dela é a Expansão, o infinito...
Aqui temos o finito (a Terra) e o infinito (o Céu Estrelado). Tudo dentro do Espaço Cósmico, que é a expressão do Caos!
O poeta Hesíodo narra em seu poema que dentro do Caos havia dois irmãos sem forma os quais sempre existiram. EROS E ANTEROS. Eros, a força de atração, e Anteros, a força de repulsão. E esses dois irmãos estão sempre metidos em tudo. Começaram suas atividades atraindo Gaia e Urano fazendo um se apaixonar pelo outro.
Essa lei, a da atração dos contrários, é divina.
Ela existe para proporcionar EQUILÍBRIO no Universo.
Por exemplo: um grande pecador sempre atrairá um grande santo.
O que sabe atrai o que não sabe, para ensiná-lo, e o que não sabe atrairá o que sabe, para aprender.
Uma mulher bonita tem tendência a atrair um homem feio.
As loiras atraem os negros.
A delicadeza atrai a brutalidade.
A gazela atrai o leão.
Chapeuzinho Vermelho atrai o Lobo Mau.
O vazio atrai o cheio.
A luz busca a escuridão, e vice-versa.
O positivo atrai o negativo.
O rico atrai o pobre.
O que tem saúde atrai o doente.
Essa é uma lei, e da união desses contrários sempre surge algo novo, que dará continuidade à vida. Se você quer progredir, ser bem sucedido, expandir sua consciência, viva essa lei!
Por exemplo: se você é ignorante, busque a sabedoria.
Se for pobre, procure a companhia dos ricos. (Aqui você terá que usar sua inteligência, astúcia, esperteza, autocontrole, dissimulação, para conseguir realizar essa proeza, porque os ricos detestam os pobres, embora não consigam viver sem eles...)
Se for rico, busque a pobreza, isto é, faça caridade, ajude os pobres e aprenda com eles... Há pobres muito talentosos, sábios, experientes, verdadeiros artistas, mestres em artimanhas e segredos da vida... Eles têm muito a ensinar...
Se você é fraco, busque a companhia do forte.
Se for medroso, procure a amizade do corajoso.
Se for preguiçoso, trabalhe!
Se falar demais, cultive o silêncio.
Se for solitário, busque amigos.
Se viveu a vida inteira na cidade, busque a floresta, o campo, o contato com a Natureza.
Se for nervoso, inquieto, relaxe.
Se tiver medo, enfrente o que lhe causa temor.
Se gostar de muitas mulheres, escolha uma que o agrade e se dedique inteiramente a ela.
Se for velho, busque a companhia dos jovens, das crianças...
Se for orgulhoso, pratique a humildade.
Se for ateu vá a uma igreja, ou religião e fique ali por uns tempos, e veja o que acontece.
Se você trabalha demais, tire uns dias para descanso. Vá pescar, viajar, e esqueça o traba-lho...
Há, também, outras leis menores contidas nessa narrativa, como se verá a seguir:
Depois de um tempo de fartura, vem um de escassez.
Depois do Caos veio um período de intensa atividade, criação, explosões gigantescas...
Imagine o Caos como um silêncio profundo e de repente Urano e a Terra explodindo em encontros gigantescos...
Convulsões dos elementos!
Ventos, furacões, tempestades elétricas...
Vulcões em erupção...
Criaturas gigantescas rastejando na Terra...
Os elementos em lutas ciclópicas...
Aí vem Saturno e paralisa tudo!
Há uma calmaria geral...
A vida se recolhe...Tudo silencia..
A grande noite chega, trazendo as sombras...
A morte ronda tudo.
O mundo se cala, adormece, se aquieta...
Chega a velhice, a imobilidade, o sono, a morte...
A Terra descansa.
Saturno impõe um reinado de medo.
Ninguém ama, ninguém ri, ninguém dança...
Gaia e Réia não vêm mais seus filhos...
E choram...
Gaia sente saudades de Urano. Mas Urano escondeu-se no fundo do Universo.
Está impotente e pacientemente espera...
Réia só tem uma esperança: JÚPITER!
Consegue salvá-lo da voragem do pai...
Logo Júpiter crescerá, ficará forte e destronará Saturno.
Aí virá um período feliz, muito feliz!
Esse período chamar-se-á a IDADE DE OURO, assunto que será visto no próximo capítulo.
Outra lei é a de que quando um homem chega a ponto de não querer mais filhos, odiar as crianças, fugir do que é novo, preferir a solidão, recolher-se, buscar o silêncio, é porque envelheceu!
Aqui há uma lei misteriosa, que poucos têm acesso.
Para deter a velhice, é preciso cercar-se de juventude!
É preciso voltar a ser criança.
Amar o riso, o lazer, a brincadeira.
É preciso iniciar algo novo!
Parar de se repetir a si mesmo.
Deixar de ser sério.
Brincar, renovar-se, descartar-se de velharias...
Usar roupas novas, elegantes, coloridas, harmoniosas...
Ir para lugares diferentes; ter contato com pessoas desconhecidas.
Mudar de pensamentos, hábitos, sentimentos e emoções.
Fazer o que não se está acostumado a fazer.
Aprender uma nova profissão, uma nova arte!
Ir a lugares onde há muitos jovens.
Ressuscitar em si os interesses dos tempos de juventude!
É justamente esse o segredo do Elixir da Longevidade.
Tão simples! Tão claro! Tão fácil!
Mas a maioria prefere Saturno!
É mais fácil ir a favor da corrente, não reagir, não lutar e entregar-se aos braços de Morfeu...
E por isso envelhecem e morrem...
Outra lei oculta nesses ensinamentos é que o que um indivíduo faz a outro, alguém o fará também a ele!
Saturno destronou Urano, Júpiter destronará Saturno e algum dia um novo Deus destronará Júpiter o que já aconteceu com o advento do cristianismo!
Os próprios filhos de Urano ajudaram a derrubá-lo, e depois os próprios filhos de Saturno se levantarão contra ele...
Aqui há outra lei misteriosa.
O pai e a mãe criam os filhos com muito amor (ou apego). Sacrificam-se, anulam-se, renunciam a muitas coisas por causa dos filhos, e quando eles crescem, somem, desaparecem... Esquecem-se dos pais. Internam-nos em asilos e nem sequer vão visitá-los... E há também uma outra questão oculta nessa história. Há sempre alguém tramando traições por trás dos bastidores... Judas conspirava ocultamente contra seu mestre Cristo. Dalila contra Sansão, e no caso da Mitologia, Gaia contra Urano e Réia contra Saturno...
Urano sequer suspeitava que Gaia fabricava, às ocultas, uma afiada foice com terrível propósito e incentivava o próprio filho a castrar o pai... E Réia enganava Saturno ocultando o filho Júpiter que haveria de destroná-lo!
Nesta primeira parte da MITOLOGIA e-xistem muitos ensinamentos ocultos sobre Astrologia, assunto do próximo livro.
Vimos anteriormente que os filhos de Urano eram gigantes. Isso significa que as pessoas regidas fortemente por Urano tendem a serem mais altas que o normal; são bastante férteis, com tendência a terem muitos filhos e, posteriormente, estarão sujeitas a impotência sexual, quando Urano sofrer restrição de Saturno por conjunção ou quadratura. As paixões de Urano são muitas e e-xageradas e por isso podem extinguir-se rapida-mente. Urano também às vezes despreza os filhos e se desapega deles com relativa facilidade. Sua influência torna o homem inclinado a solidão por motivos religiosos e místicos. Pode sofrer traições por parte de pessoas de seu círculo mais íntimo.
Quanto às influências de Saturno no horóscopo de um indivíduo o mesmo dá tendência à esterilidade, a maltratar os próprios filhos, quando os tem, ao excesso de disciplina e seriedade, não to-lerando manifestações alegres, brincadeiras, festas e algazarras. Ama o silêncio, a solidão, e possui forte tendência ao pessimismo, à melancolia e está sujeito à depressão.
2a PARTE

Na primeira parte da Mitologia vimos que Urano foi o primeiro deus a reinar e povoou o planeta de gigantes. O segundo foi Saturno, o qual silenciou e paralisou o mundo; trouxe o Sono, a Velhice, a Morte e a Terra tornou-se um lugar muito triste...
As duas deusas que existiam nessa época, Gaia e Réia, viviam mergulhadas em profunda melancolia...
Isso durou até que Júpiter nasceu, cresceu, se fez forte, poderoso e com a ajuda dos Cíclopes (gigantes com um só olho na testa) e dos Hecatônquiros (gigantes fortíssimos e monstruosos com cem braços e cinqüenta cabeças) destronou Saturno e assumiu o papel de rei universal.
Como foi visto anteriormente, tudo co-meçou com o Caos.
Quando um bebê vem ao mundo é como se ele brotasse do Caos... Nada sabe, nada pode, nada pensa, nada fala... É algo frágil, indefeso, um pequeno caos em miniatura. Seu corpo é o único ponto de referência para sentir-se vivo; graças a ele sente fome, dores, prazeres e é assim que tem consciência de si como ser vivente.
Os espiritualistas sabem que todo bebê é clarividente e na Astrologia Urano é um dos planetas que produzem no homem as faculdades de clarividência. (O outro planeta é Netuno). Só que é uma clarividência passiva, descontrolada... O mundo, em sua volta, é algo imenso, colossal, infinito, por assim dizer, e ele, como Gaia, é apenas um "pedacinho de terra" nadando nesse oceano de infinitude...
Logo o mundo exterior começa a impressioná-lo, fecundá-lo, gerar nele sensações, sentimentos, impressões. As pessoas que o rodeiam são seus "mestres", seus "hierofantes" e tudo o que provêm deles assume caráter gigantesco em seu psiquismo infantil.
Ele é apenas um serzinho indefeso que só tem a sensação de que existe e está vivo por causa do seu pequenino corpo.
A vida, para ele, é um fluir contínuo, sem tempo, sem antes nem depois... Tudo é um eterno agora, porém, à medida que vai crescendo o tempo (Saturno) vai surgindo em sua existência.
Gradualmente, a princípio, quase que imperceptivelmente, o tempo vai aparecendo e junto com ele uma outra realidade: as proibições, as restrições, os bloqueios. Quase todos os seus impulsos são cerceados pelos adultos e não demorará para que Saturno se apodere totalmente da situação e passe a reinar, castrando Urano e expulsando-o de vez...
Daí para frente Saturno comandará tudo!
O homem poderá viver até o fim dos seus dias debaixo dos domínios de Saturno; escravo de tudo: do tempo, das dificuldades, da miséria, do materialismo, do sono, da velhice e da morte!
Só através do nascimento de Júpiter em sua vida é que o homem poderá ter chance de libertar-se!
O NASCIMENTO DE JÚPITER
Réia, esposa de Saturno, com os olhos já secos de tantas lágrimas derramadas pelos filhos devorados pelo pai cruel, vai consultar um oráculo. E fica sabendo que o fim de seus dias tristes está próximo, pois do seu ventre nascerá uma criança que, quando adulta, reinará como senhor do mundo dos homens e dos deuses; destronará seu pai, trará ordem ao Universo, criará o Olimpo e inaugurará um período de muita paz, alegria e intensa felicidade. Réia volta para casa feliz e exultante pois sabe que os oráculos desse tempo não mentem jamais.
Cheia de esperanças, não tarda a engravidar.
Logo nos primeiros dias sente-se envolvida por uma nuvem de felicidade e tudo em sua volta parece mais alegre e colorido.
O céu se torna mais azul, as árvores mais verdes, as flores mais radiosas e perfumadas... Os pássaros cantam com mais harmonia e suas horas são cheias de irisados sonhos...
Um dia sente que está chegando momento de dar a luz. Enquanto Saturno dorme placidamente, Réia envolve-se em véus e secretamente transportada por uma nuvem, desce do céu em direção a Terra. Dirige-se até um vale profundo. Depois de andar algum tempo por esse vale, penetra numa espessa floresta, e depois de muito caminhar, já não suportando mais as dores do parto, encontra uma gruta oculta em meio a uma densa folhagem e ali põe no mundo o deus que será chamado Júpiter. Em seguida, como precisava lavar a criança e não houvesse água por perto, ajoelha-se e suplica a Terra que a ajude. Imediatamente, próximo ao recém-nascido, brota uma fonte de águas frescas, cristalinas e cantarolantes. A soberana deusa lava o filho, envolve-o em macio tecido azul e branco e sai andando alegre pela floresta pensando em como salvá-lo da voragem do pai. Não se cansa em deleitar-se com a beleza do tenro menino. Júpiter esboça um belo sorriso, pois já nascera sorridente e não chorou, como as outras crianças, quando nasceu... Seus olhos são de um azul celeste e dentro deles cintila uma luz rósea. Seus cabelos são louros, cacheados e irradiam um bri-lho dourado semelhante ao sol da manhã.
De repente, eis que lhe aparece como que surgida do nada, uma linda ninfa de rosto alegre, com olhos ternos, irradiando bondade e amor, e a feliz soberana lhe entrega o filho ordenando-lhe que o leve a uma grande ilha chamada Creta, onde deverá escondê-lo numa profunda e larga gruta oculta em meio a um bosque onde se erguem, além de belas árvores frutíferas, gigantescos car-valhos.
Depois, rapidamente, Réia volta para casa, pensando num plano para enganar Saturno. Por sorte este ainda dorme...Ela pega, então, uma pedra do tamanho de um bebê, envolve-a com panos, vai até Saturno, acorda-o e diz-lhe: "Eis aqui seu filho!" O deus do tempo, sempre mal-humorado, com um ar de indiferença, pega o embrulho, e sem ao menos olhar para o que tem dentro, devora-o imediatamente, com os panos e tudo... Depois volta a dormir.
Na gruta para onde o pequeno Júpiter foi levado, moram várias ninfas e assim que o gracioso rebento penetra nesse ambiente sagrado elas o a-colhem felicíssimas e perplexas pela beleza inefá-vel da criança. O recém-nascido dorme inocentemente e elas o colocam num berço natural escavado na rocha cercado de cristais de quartzo rosa coberto por um macio musgo salpicado de pequenas flores coloridas.
Uma cabra, de nome Amaltéia, dá-lhe um puríssimo leite e daí em diante serve-lhe de ama-de-leite. Essa cabra é um animal muito especial, pois tem os pelos alvos como o algodão, os olhos cor de mel e os chifres de marfim.
Além do leite o bebê alimenta-se também de néctar, ambrosia e mel de abelhas silvestres.
A ambrosia é trazida por maravilhosas pombas brancas vindas de longínquas e etéreas paragens e o néctar divino da imortalidade chega por meio de uma poderosa águia de penas de ouro, bico de prata, olhos de safira e garras de ferro polido e brilhante.
Como toda criança sadia, de vez em quando Júpiter chora, porém o seu choro é diferente das outras crianças...É um som melodioso, que brota de sua garganta como se fosse o lamento de uma flauta doce, e ecoa pela floresta cativando a atenção dos pássaros que se calam para ouvi-lo.
Com medo que Saturno possa ouvir o choro do filho e descobrir que foi enganado, as ninfas chamam os Curetes, guerreiros dançarinos, que prontamente vêm dançar em volta do bebê para acalmá-lo e baterem ritmicamente com as espadas de aço brilhante sobre seus escudos de bronze polido a fim de abafar o choro da criança...
Júpiter cresce na companhia desses alegres guerreiros e com eles aprende muitos movimentos estratégicos de luta bem como a manejar a espada e o escudo. À medida que cresce vai tornando-se forte, ágil, rápido na corrida, ousado e intrépido... Dos Curetes assimila a ousadia, a intrepidez, a coragem e das ninfas a doçura, a delicadeza, a a-mabilidade e o otimismo contagiante.
Quando atinge certa idade é enviado a um lugar onde só vivem sacerdotes e músicos. Aí ele aprende tudo sobre rituais, invocações, magia, os mistérios da música e a manejar todos os instrumentos musicais.
Um dia, num acidente, a cabra Amaltéia quebra um dos chifres e Júpiter transforma-o na "Cornucópia Sagrada" de onde se derramam as bênçãos da abundância e da fortuna. Tempos depois a cabra morre e Júpiter tira-lhe a pele, que é mágica, e passa a usá-la tornando-se invulnerável com ela... Finalmente, como prova de gratidão, Júpiter presta uma última homenagem à cabra transformando-a numa das constelações.
Quando Júpiter atinge a idade adulta fica sabendo de tudo sobre seu pai Saturno; de sua crueldade e tirania, de seu orgulho, prepotência, pessimismo e resolve destroná-lo. Primeiro vai consultar sua prima Metis, a qual se tornara sua primeira amante e conselheira. Metis é muito inteligente, habilidosa, e conhece certos segredos ocultos da Natureza. Possui várias virtudes e qualidades e é uma poderosa feiticeira, conhecedora dos poderes das plantas e das flores mágicas. Ela prepara para Júpiter uma beberagem misteriosa aconselhando-o a entregá-la secretamente à Gaia para que ela no momento oportuno e de forma astuciosa, faça seu esposo Saturno bebê-la. Essa beberagem tem o poder de tornar a pessoa que a ingerir muito tranqüila, pacífica, obediente, sugestionável e, além disso, provoca vômitos incontroláveis.
Júpiter permanece oculto vigiando o pai e no momento em que este bebe a poção preparada por Metis, ele (Júpiter) pula em sua frente e o obriga a vomitar todos os seus irmãos, que são em número de cinco, ou seja, Héstia, Dêmeter, Hera, Hades (Plutão) e Possêidon (Netuno).
A palavra "Hestia" significa: "Altar com fogo". "Deméter" :"Terra-Mãe". "Hera" quer di-zer: "Protetora, Guardiã". "Hades": "Mundo Oculto, Invisível" e "Possêidon" "Dono, Senhor". Com a ajuda desses cinco irmãos Júpiter domina o pai e o obriga a exilar-se provisoriamente em algum canto obscuro e longínquo do Universo.
Depois escolhe uma bela e soberba montanha e ali cria o Olimpo, lugar maravilhoso cheio de belos palácios feitos com o mais fino mármore, e magníficos bosques e jardins. Reúne todos os seus irmãos e deuses e coloca-os cada um em seu devido lugar conforme seu caráter e predileção. Casa-se com a bela Hera (Juno) e vai morar no Olimpo com sua divina família.
A GUERRA DOS DEZ ANOS

Foi dito no início que Urano fecundava Gaia e nasciam gigantes. Esses gigantes, os Titãs e as Titânidas, eram em número de doze, ou seja, Oceano, Ceos, Crio, Hiperião, Jápeto, Cronos, (Saturno) Téia, Réia, Mnemósine, Febe, Tétis e Têmis. Com exceção de Cronos (Saturno) todos os seus irmãos resolveram defendê-lo e partiram para uma refrega contra Júpiter. Este, a conselho de Gaia, liberta os Ciclopes e os Hecatônquiros que estavam aprisionados no fundo do Tártaro. Os Ciclopes, como já foi dito, eram criaturas mons-truosas, gigantescas; possuíam um só olho enorme na testa e eram hábeis armeiros e ferreiros; também fabricavam os trovões e os raios, portanto, Júpiter estava bem guarnecido de armas e escudos. Deram-lhe um bastão mágico que produzia relâmpagos e raios a vontade, e também fabricaram um capacete que o tornava invisível. Esse capacete Júpiter presenteou-o depois a Hades, um de seus irmãos. Os Ciclopes fabricaram um tridente poderoso capaz de controlar as ondas do mar, pulverizar rochedos e pedras e fazer brotarem fontes no chão. Esse tridente foi presenteado a Netuno, outro irmão de Júpiter.
A batalha de Júpiter, seus aliados e irmãos contra Saturno e os Titãs durou dez anos. Foi terrível e assumiu proporções épicas mas finalmente os deuses mais jovens expulsaram os mais velhos. Aprisionaram-nos no Tártaro e se apoderaram dos seus lugares no céu.
Depois foram para o Olimpo onde o ar é sempre puro e luminoso, onde não existem nuvens escuras ou chuva e os dias são sempre calmos e amenos.
OUTRA GUERRA
Porém, a paz dos Olímpicos não durou muito... Gaia não suportou ver seus filhos primogênitos, os Titãs e as Titânidas, aprisionados no Tártaro, e afim de liberá-los convocou a ajuda de outros filhos, uns Gigantes nascidos do sangue de Urano quando este foi castrado por Saturno. Tais gigantes eram criaturas monstruosas e de aspecto aterrador. Usavam armaduras resplandecentes; possuíam vasta cabeleira, barba hirsuta, olhar feroz e pernas em forma de serpentes gigantescas...
Embora nascidos nos primórdios dos tempos não eram imortais. Podiam ser mortos quando recebiam dois golpes simultâneos, de um deus e de um mortal. Atacaram o Olimpo com ferocidade titânica arremessando rochedos imensos e tochas gigantescas contra os deuses mas estes anulavam seus ataques com seus escudos e ferramentas mágicas, e graças a ajuda de Hércules, que se encarregava de dar o golpe de misericórdia com suas flechas certeiras e mortíferas a contenda foi ganha com relativa facilidade.
Júpiter ainda não havia ganho totalmente a batalha.
Faltava ainda uma última prova.
Havia nessa época um monstro terrível, o mais assustador e gigantesco de todos, chamado Tifão.
A BATALHA COM TIFÃO

Tifão era filho de Gaia e Tártaro.
Criatura gigantesca, aterrorizante, cuja aparência era semi-humana. Tão grande que sua cabeça encostava nas estrelas e quando abria os braços uma das mãos tocava no Oriente e a outra no Ocidente. No lugar dos dedos possuía cem cabeças de dragões soltando fogo e fumaça pelas ventas. Da cintura para baixo seu corpo era recoberto de víboras. Tinha asas descomunais, como as de morcego, tão grandes que abraçavam a Terra, faziam escurecer o mundo e seus olhos lançavam línguas de fogo...
Era tão feio e assustador que quando se aproximou do Olimpo a maior parte dos deuses fugiu para o Egito para não ter que enfrentá-lo, escondendo-se no deserto, transformando-se em animais a fim de iludir o monstro. Apolo assumiu o aspecto de um milhafre (certa ave de rapina), Hera o de uma vaca; Hermes o de Íbis; Ares de peixe; Dionisio o de um bode; Hefestos o de um boi e assim por diante.
Júpiter e Atena foram os únicos que não fugiram. O deus do Olimpo resolveu enfrentar esse monstro e imediatamente lançou contra ele seus poderosos raios. Tifão, pego de surpresa, fugiu mas Júpiter o perseguiu , ferindo-o com uma foice de sílex e travou com ele violenta luta corpo a corpo. Nessa luta Tifão, devido ao seu tamanho descomunal, conseguiu dominar Júpiter; tomou-lhe a foice e, como não podia matá-lo, pois ele era um imortal, cortou-lhe os tendões dos braços e dos pés, tirou-lhe os músculos e escondeu tudo na pele de um urso. Depois colocou-o desfalecido sobre os ombros e transportou-o para dentro de uma caverna, colocando na porta um dragão para vigiá-lo. Todavia os deuses Pã e Mercúrio, filhos de Júpiter, resolveram libertar o pai. Pã, com seus berros aterradores, causadores do pânico, e Mercúrio, com suas artimanhas e habilidades mágicas, conseguiram enganar o dragão e libertar Júpiter, devolvendo-lhe os tendões e os músculos. Este, logo que se sentiu restaurado, escalou o céu num carro puxado por cavalos brancos e alados e de lá lançou contra Tifão centenas de raios fulminantes. O monstro fugiu para o monte Nisa onde encontrou-se com as Moiras, que lhe deram frutos mágicos chamados "efêmeros", com a promessa de que tais frutos lhe fortaleceriam, porém, o que elas ofereceram ao monstro, na verdade, era a derrota próxima, porque eram amigas de Júpiter. O mons-tro ainda tentou destruir Júpiter atirando-lhe diversas montanhas, mas o deus do Olimpo triturava-as com seus raios e arremessava-as de volta ao ini-migo ferindo-o profundamente.
Finalmente Júpiter esmagou o monstro lançando sobre ele o monte Etna, que até hoje vomita suas chamas deixando transparecer que sob o vulcão o monstro apenas dorme...
Depois dessa batalha Júpiter voltou para o Olimpo com toda a prole de sua família e deuses.
Júpiter agora é o senhor absoluto!
Venceu todas as batalhas.
Pode reinar com poder universal, em todos os mundos, tanto nos de baixo como nos de cima.
Seu primeiro ato como rei foi por ordem na casa, que será narrado mais adiante.

O OLIMPO
Situado na mais alta montanha, muito acima das nuvens, o Olimpo é um lugar maravilhoso.
Lá não há tempestades, nem frio intenso, nem neve e nunca chove.
Acima do Olimpo expande-se um céu muito azul e claro, e esse céu não é algo imóvel, extático. Nele circulam correntes de luz e cores diáfanas e, misturados a essas correntes, movem-se seres mágicos, em constante vibração rítmica. Ora são grupos de ninfas vestidas de roupagem nas cores do arco-íris, ora são os pégasos, cavalos brancos, alados, que transportam os deuses de um lado a outro; ora são dragões domesticados, dançando alegres na atmosfera límpida, em movimentações suaves, para deleite dos olhos dos deu-ses...
Ouve-se, permanentemente, música muito linda. É a "Música das Esferas", e os seres alados divertem-se dançando ao som dessa música eterna...
Às vezes cruzam os céus Apolo, com seu magnífico carro de ouro puxado por lindos cavalos brancos voadores, seguido por um séquito de criaturas etéreas que o acompanham por toda parte.
Outras vezes é Mercúrio, com seu alado capacete brilhante, ou Atena, com sua armadura res-plandecente, ou Afrodite, com seu carro mágico puxado por cisnes brancos e em sua volta inúmeros anjinhos e fadas.
O Olimpo é recoberto de palácios monumentais construídos com os mais finos mármores de todas as partes do mundo. Suas torres são matizadas de ouro, prata, pedrarias e refletem a luz do sol, criando um espetáculo indescritível. Em torno de cada palácio florescem luxuosos jardins, ornamentados com plantas raras e forrados das mais lindas flores... Há, também, árvores frondosas.
O palácio de Júpiter é o mais imponente. Ergue-se sobre imenso rochedo de granito cravejado de turquesas, opalas e lapilazulis. Revestido de mármores azuis e brancos, seus telhados são cobertos por lâminas de estanho polido recamadas com pequenas placas de ouro e prata formando mosaicos resplandecentes. Suas salas são imensas, estofadas com tapetes dos mais variados estilos e cores. Nas paredes estendem-se luxuosas tapeça-rias bordadas por hábeis artesões reproduzindo toda a História da Criação. Os móveis são feitos de raras e perfumadas madeiras entalhadas com relevos exibindo feitos heróicos dos deuses, alem de florões e ornamentos variados, alguns ataviados com folhas de ouro e prata, outros marchetados com plaquetas de ébano, marfim e madrepérolas.
Por toda parte distribuem-se grandes esculturas de mármore simbolizando deusas e deuses em atitudes meditativas, algumas alegres e outras em atividades olímpicas.
Há, também, espalhadas pelos cantos, enormes ânforas e vasos de porcelana ricamente decorados com motivos florais e geométricos.
O trono de Júpiter é o mais espetacular de todos os que há no Olimpo.
Inteiramente fundido em ouro maciço, possui o formato de uma gigantesca rosa desabrochada e repousa sobre sete degraus de metais diferentes, lavrados e polidos impecavelmente, tendo suas bordas incrustadas de pedras preciosas. Ao lado do trono erguem-se quatorze cavalos esculpidos em mármores azul e branco, sete de cada lado. Por sobre o trono existe um grande cortinado azul celeste e distribuídas em pontos estratégicos estão sete lâmpadas mágicas, pois nunca se apagam, emitindo luzes coloridas nas sete cores do arco-íris. Em redor do trono, a alguns metros de distância, estão sete fontes de águas cristalinas, jorrando incessantemente, e cada uma exprimindo uma das sete notas musicais, de forma que o som que elas irradiam, em conjunto, produzem uma suave melodia. Nos lagos que formam as águas das fontes nadam alguns cisnes brancos e no vapor produzido pelos esguichos dançam permanentemente lindíssimas nereidas multicoloridas.
O caminho que leva ao trono é forrado por grossos tapetes de lã azuis bordados com desenhos em ouro e prata salpicados de diamantes e safiras de todas as cores.
O jardim desse palácio é um dos mais belos. Povoado de carvalhos, ciprestes e cedros, o solo é todo recoberto por um gramado verdejante, adornado com girassóis e outras flores maravilhosas. Aqui e ali erguem-se estátuas de bronze, ouro ou prata, expressando guerreiros ou então grupos de heróis em triunfo, cenas das batalhas de Júpiter e lindas beldades. Todos os deuses do Olimpo estão ali, imortalizados em monumentais esculturas.
O palácio de Afrodite (Vênus), a deusa da beleza e do amor, é o mais formoso de todos... Totalmente revestido de mármores rosa e branco, com trabalhos em relevo representando ninfas, fadas, cupidos e anjinhos brincando alegremente, suas torres e telhados são cobertos de cobre polido, filigranas de ouro e pedrarias em geral. O interior é ornado com belas obras de arte vindas de todos os recantos do mundo. O piso é revestido com ladrilhos de jade verde escuro intercalados com ágatas rosas e opalas coruscantes. Em certos recantos há azulejos de safira, águas-marinhas, e o teto é todo cravejado de madrepérolas e conchas nacaradas. Pendurados nele derramam-se maravi-lhosos lustres enfeitados com pérolas e diamantes multicores. Espalhados por toda parte há tapetes e almofadas bordadas com fios de ouro, prata e sedas multicoloridas. Em todos os cantos repousam lindos vasos de cristais em alegre policromia, enormes ânforas de porcelana e estátuas confeccionadas em marfim, âmbar, coral, ônix, jaspe e outros minerais raros. Uma leve fragrância de perfumes inundam o ambiente.
Os jardins desse palácio são ricamente adornados com muitas flores e dentre elas, a que mais se destaca, é a rosa.
Magníficas rosas! Brancas, amarelas, vermelhas e rosadas.
Além de todas essas maravilhas há também lindas dançarinas com seus corpos sensuais e ágeis bailarinos dançando ao som de cítaras e flautas tocadas por habilidosos músicos. Por toda parte esvoaçam anjinhos alados... Há, também, licores inebriantes e manjares feitos por divinos confeiteiros... Tudo aí é pura alegria, beleza, harmonia e felicidade!
O palácio de Ares, (Marte), o deus da guerra é todo construído em mármore negro, vermelho e azul-da-prússia.
O piso é feito de ladrilhos de ônix preto e ágata vermelha.
Não há móveis, nem enfeites. Espalhadas pelos cantos repousam inúmeras armaduras de aço e bigas das mais diversas. As paredes são forradas de lanças, espadas, escudos e os mais variados apetrechos de luta.
Nos jardins em torno do castelo não há flores. Há apenas um gramado verde decorado com grani-tos, alguns cactos decorativos e imponentes árvores de madeira dura. Soltas nos jardins passeiam panteras negras e outras feras selvagens. Poucos se atrevem a penetrar no antro desse assustador castelo, a não ser Afrodite (Vênus), que é apaixonada pelo deus guerreiro.
Cada deus possui o seu castelo. São vários, todos construídos conforme a índole e o caráter do dono. O de Hermes, (Mercúrio) por exemplo, é abarrotado de instrumentos de engenharia e decorado com esculturas de formas geométricas, com várias salas de estudos apinhadas de livros, manus-critos, mapas e tesouros da sabedoria tradicional.
O de Diana (Ártemis) é inteiramente revestido de mármore branco e seus telhados são recobertos da mais fina prata... Seu interior é atapetado com peles de animais e os móveis são feitos de uma mistura de marfim, dentes de orca e imensas conchas de madrepérola. No piso estendem-se diversos tapetes de peles de ursos brancos e tigres albinos. Nas paredes destacam-se cabeças empa-lhadas de leões, elefantes, renas, veados e outros animais de grande porte. Os jardins são cobertos de um gramado verde com trechos de areia branca ornados com pequenos bosques onde passeiam em liberdade pequenos animais silvestres, veados, renas e cães adestrados. Os animais e os cães vivem em perfeita harmonia.
Assim é o Olimpo, lugar paradisíaco, mágico, onde os deuses passam o tempo conversando, divertindo-se, observando os mortais aqui em baixo, deleitando-se com suas pantomimas, tragédias e aventuras. Às vezes afeiçoam-se por algum mortal de bom caráter e índole aventureira e passam a ajudá-lo, como aconteceu com Eneas, Ulis-ses, Perseu, Teseu, Jasão, Psique e muitos outros.
Vivem em perfeita paz, cada um cuidando de seus assuntos pessoais, raramente interferindo uns com os outros, sempre bem-humorados. Às vezes se apaixonam mantendo amores e amizades clandestinas que nunca permanecem ocultas por muito tempo, pois todos os deuses são clarividentes e possuem inúmeros gênios que o mantêm informados sobre tudo e todas as coisas, tanto no Olimpo como aqui em baixo. Outras vezes se indispõem uns contra os outros mas sempre são apaziguados por Júpiter, que tudo governa com poder absoluto e justiça inigualável.

JÚPITER PÕE ORDEM NA CASA

O primeiro ato de Júpiter foi estabelecer, definitivamente, no Universo, os reinos e seus respectivos governantes.
Anistiou todos os que estavam presos ou confinados em algum canto remoto do Universo, tais como Urano, Saturno, os Gigantes, os Titãs e as Titânidas, perdoou a todos, fez uma gigantesca festa de confraternização no Olimpo, onde todos tiveram o direito de se apresentarem, havendo belos discursos e magníficas apresentações artísticas, cada um demonstrando suas capacidades, poderes, talentos e beleza, de modo que todos puderam co-nhecer-se melhor uns aos outros, amarem-se, admirarem-se e harmonizarem-se definitivamente. Houve muitas demonstrações de afeto e respeito mútuo, trocas de elogios, presentes... Foi nessa festa que Júpiter presenteou Netuno com o "Tridente Mágico"e Hades com o "Capacete da Invisibilidade". Essa festa durou sete dias consecutivos e foi uma época em que o Olimpo tornou-se um dos lugares mais belos do Universo.
Júpiter dividiu o Cosmo em três partes.
A parte de cima, onde situam-se o céu azul, o dia, as nuvens, as chuvas, os ventos, o éter, os trovões, os raios, os relâmpagos, tudo isso ele reservou para si, o seu espaço, o seu lugar de predileção, onde situa-se o Olimpo, com seu palácios, seu tronos, etc.
A parte do meio, onde estão contidos os oceanos, mares, rios, lagos, fontes, vapores, neblina, etc., Júpiter deu a Netuno.
A parte de baixo, o interior da Terra, onde circulam as correntes vulcânicas, lugar de muito calor e lavas incandescentes, onde são gerados os vulcões, os metais e os minerais Júpiter estabeleceu o reinado de Hades.
Saturno, os Titãs e as Titânidas, após serem libertados do Tártaro e perdoados por Júpiter ga-nharam, como reino, um lugar chamado "Ilha dos Bem-aventurados", para onde vão, após a morte, os mortais virtuosos a fim de receberem suas re-compensas.
Urano ficou com o mundo das estrelas, dos astros, cometas, o Zodíaco, as constelações etc., embora Júpiter também reine, não só nesse mundo como também em todos os outros, isto é, tanto nos céus como também no mar, nas águas, no ar, no fogo, na terra e nas regiões subterrâneas. Na verdade, Júpiter, na Mitologia, é o supremo deus de todos os mundos e de todos os seres.
Mercúrio, um dos deuses mais jovens do Olimpo, sempre representado como um mancebo imberbe, ganhou de Júpiter o ofício de "mensagei-ro dos deuses" , um intermediário entre os deuses e os mortais e vice-versa.
Está sempre viajando, sempre voando de um lugar a outro e não só é um intermediário entre os deuses e os mortais como também é o mensageiro entre os próprios deuses. Às vezes permanece algum tempo entre os humanos melhorando seus relacionamentos, fundando escolas, academias, promovendo o comércio, a comunicação, e auxiliando os escritores, filósofos, matemáticos, e geômetras etc.
Vênus tornou-se a "Grande Princesa" entre os deuses, a mais bela, a "Menina dos Olhos" de Júpiter, a deusa da beleza e do amor e sua função, tanto no Olimpo quanto na Terra, entre os deuses e os mortais, é promover todas as manifestações artísticas incluindo a poesia, música e as artes plásticas em geral. Também relaciona-se com a beleza feminina e influi na joalharia, moda, decoração... Enfim, se Mercúrio tem a ver com a inteligência, razão, raciocínio, comunicação e as letras em geral, ela, Vênus, tem a ver com as artes, sentimento, emoção, o Belo, tudo o que enfeita, a harmonia, estética etc.
A Marte coube todos os assuntos relacionados ao Esporte, as forças militares, as armas em geral, aos jogos, as guerras, a masculinidade, virilidade, coragem, valentia, sentimento de honra bem como atividades esportivas e as capacidades que os homens têm de enfrentar as dificuldades e ir a luta para vencer todas as batalhas da vida.
A Apolo foi dado a função de iluminar, clarear tudo, vivificar, rejuvenescer, restaurar, e-nergizar, curar todas as doenças em todos os reinos da natureza e também produzir a "Música das Esferas". Portanto, além de trabalhar com a Luz, age também nas cores e nos sons... Ele é sempre representado como um belo mancebo de vasta cabeleira loura, conduzindo seu carro de ouro puxado por quatro cavalos brancos e alados e sempre empu-nhando uma lira de sete cordas. Ele é que gerou Esculápio, o pai da medicina.
Desta forma vemos que Júpiter após vencer todas as provas e batalhas contra seus inimigos organizou e ordenou tudo tornando-se o deus absoluto do Universo.
A questão dos amores, romances, aventuras entre os mortais, do casamento de Júpiter e dos ciúmes de Juno, sua esposa definitiva, de sua relação com Prometeu, o criador dos homens, de Pandora, das diversas facetas de seu caráter e de como exerceu poderosa influência nas civilizações européias e ocidentais, será tratado no próximo capítulo.

I N T E R P R E T A Ç Ã O
É preciso desde logo esclarecer alguns pontos importantes que auxiliarão na compreensão desta interpretação.
Não resta dúvida que na Mitologia grega e latina estão contidos, de forma oculta e nas entrelinhas, ensinamentos preciosos e práticos sobre Esoterismo, Magia, Astrologia, Filosofia e a verdadeira Psicologia, que é o que mais interessa, no momento.
Cada história, cada fato, narrativa, cada descrição de criaturas ou lugares tudo, enfim, tem a ver com as leis da Magia, da evolução da Consciência, do estudo da formação e desenvolvimento do homem, das Leis da Natureza e do Destino do Universo em geral.
Não se pode encarar a Mitologia como algo histórico, fatos que aconteceram no tempo e no espaço, ou que esses acontecimentos se deram em determinadas ilhas, países, cidades, embora haja uma linha de estudo e pesquisa voltada para essa direção. Por exemplo, acreditar que Júpiter nasceu na ilha de Creta, ou que o monstro Tifão dorme sob o vulcão de Etna, ou que a maior parte dos deuses são gregos, ou latinos, tudo isso é absurdo e não leva a nada prático...
É preciso que fique bem claro que os acontecimentos mitológicos nunca aconteceram num passado remoto. Estão acontecendo aqui e agora. A todo instante, a todo momento... Dentro de cada ser humano.
Cada bebê que vem ao mundo trás dentro de si, em germe, um Saturno, um Júpiter, um Mercúrio, um Marte, um Olimpo bem como todos os monstros e gigantes de que fala a Mitologia... Os que se esforçarem, trabalharem sobre si, os que atenderem a voz da Consciência, os que tiverem caráter, fibra, ousadia, sede de saber, desejo de evolução, conseguirão destronar Saturno, vencer todos os monstros e gigantes, formar dentro de si mesmo o Olimpo e alcançar a imortalidade.
Muitas pessoas desistem de estudar a Mitologia porque esbarram com uma quantidade imensa de livros escritos por centenas de autores, cada um defendendo seus próprios pontos de vistas pessoais, descrevendo as histórias a sua maneira, a maioria procurando ver apenas o lado histórico ou formal, outros encarando a Mitologia apenas como simples historietas infantis, fábulas para entretenimento das crianças; e os que a levam a sério perdem-se em descrições intermináveis de detalhes, nomes, emaranham-se em labirintos indecifráveis, misturando lendas gregas, romanas com outras orientais e de épocas diferentes... Enfim, acabam deixando os estudiosos muito desanimados... Contudo, a verdadeira Mitologia em sua forma pura, original é de uma beleza inefável. Simples como as páginas dos antigos livros sagrados, que podem ser lidos e relidos dezenas de vezes sem se cansar e em cada uma delas encontrar-se novas verdades...
Há que se notar, por exemplo, que o nascimento de Júpiter é semelhante ao nascimento de todos os outros deuses de todas as religiões e épocas, incluindo Jesus, se colocarmos de lado a parte formal e literal... Assim como queriam destruir ou anular o pequeno Jesus de Nazareth logo depois que nasceu, assim também queriam "devorar" Júpiter... Da mesma forma que tiveram que esconder Jesus Menino da sanha de seus destruidores, assim também tiveram que ocultar Júpiter... E, por piores que sejam as dificuldades, por mais fortes e poderosos que sejam seus inimigos, esses Seres divinos sempre se vêem vencedores e triunfantes! O Bem sempre vence o mal!
Nesta interpretação falaremos do significado de Júpiter com relação a Psicologia bem como de muitos ensinamentos, leis esotéricas, princípios de Magia prática e um pouco de Astrologia.

O Homem aparece neste mundo vindo diretamente do "Desconhecido", do Caos, por assim dizer. Sua alma, ou consciência, entra nesta dimensão "banhada" com as influências de Urano, que significa: "Céu Estrelado". Então ele chega impregnado com o "perfume" das estrelas...
Os Rosacruzes e também outras correntes esotéricas, afirmam que o Espírito que anima o corpo do homem é um "Filho das Estrelas". Os antigos sacerdotes Incas, Maias e Astecas diziam-se "Filhos do Sol", e todos sabemos que o Sol é uma estrela...
Ao nascer é "aprisionado" dentro de um corpo material, o qual está literalmente sob os domínios de Saturno. Saturno é o mesmo que Cronos, que significa – O Tempo, e o metal de Saturno, como diz a Astrologia, é o chumbo, o mais pesado e opaco dos metais, tão opaco que nem os raios-x passam por ele... Isto significa que o lugar onde nós estamos, aqui na Terra, é um dos lugares mais densos do Universo...Um lugar onde tudo é lento, pesado, difícil, cheio de obstáculos, e para piorar, lugar onde Saturno (Satanás) reina e, de certa forma, tem seus domínios... Visto por esse lado diríamos que o Espirito humano é um "Fogo divino" oriundo das estrelas. Ele anima, aquece e mantém o corpo do homem quente e vivo, ao passo que Saturno age no sentido de esfriar e apagar esse fogo!
Existe um período na vida do ser humano em que ele é altamente criativo, descontraído, alegre, brincalhão; ri com facilidade, não tem preconceitos; sua alma é livre, solta... Está sempre disposto, animado, gosta de brincar. Empolga-se com tudo, não está preso a nada, nem se preocupa; não pensa, e o tempo para ele é quase infinito... Esse período eqüivale ao reinado de Urano, o período que abrange a infância e a juventude. Depois ele cresce, fica adulto, e se torna o oposto de tudo o que falamos atrás. Esse é o reinado de Saturno...
As palavras Saturno e Satanás são provenientes da mesma raiz e têm muitas afinidades. Aliás, um dos significados da palavra Satanás é "Adversário", "Inimigo do Homem", aquele que se opõe, que impede, que bloqueia... Na Bíblia diz-se que, um dia, Deus reuniu seus filhos, no Céu, (os planetas, os deuses) e, entre eles estava Satanás (Saturno) que acabara de dar uma volta em torno do mundo... Nessa reunião Deus mencionou Jó, e deu permissão para Satanás tirar tudo o que quisesse desse fiel devoto, menos a vida... E, como todos sabem, Satanás tirou tudo de Jó, até deixá-lo reduzido a zero... Porém, depois, teve que devolver tudo novamente!
Vimos, nas páginas anteriores, que Saturno devorava seus filhos, mas depois teve que vomitá-los. E logo após a ascensão de Júpiter foi-lhe dado um reino chamado "Ilha dos Bem-Aventurados", para onde vão as almas dos mortos para receberem as recompensas de suas boas ações feitas em vida, aqui na Terra... Isto quer dizer que Saturno tira, mas depois devolve! Na verdade, não há injustiça no Universo...O que alguém tira de outro, terá que devolver, acrescentado de "juros e correção monetária"... E aquele que tirou criou em si a possibilidade de outro também tirar-lhe... Essa é a lei!
O homem, portanto, logo que nasce cai nas garras de Saturno... O pai do tempo, da velhice e da morte.
Na Terra há uma "Lei", um "Princípio" que precisa de ser muito bem analisado e estudado com toda a atenção.
Porque o homem, ao nascer, deve cair nas garras de Saturno?
Saturno, sendo, entre outras coisas, o Tempo, e também um planeta imenso, um dos maiores do nosso sistema solar, é, sem dúvida, um Ser muitíssimo poderoso em relação ao homem! O homem, perante Saturno, deve ser bem menor que uma formiga! Porque Deus, o supremo criador do Universo, descrito pelos sábios e santos de todos os tempos como um Ser extraordinariamente generoso, justo, compassivo e misericordioso permite tamanha injustiça? Que chances tem o homem para lutar contra esse gigantesco e "impiedoso" pai do Sono, da Velhice e da Morte?
Existe um segredo sobre Saturno que só os iniciados conheciam... Esse segredo era mantido a sete chaves e proibido de ser revelado ao público. Porém, agora chegou a época em que todos os mistérios devem ser revelados... O véu do Templo foi rasgado e chegou a hora das revelações... Será útil, portanto, desvendar alguns mistérios sobre Saturno, e tentar esclarecer porque ele é o "adversário" do homem. Para isso necessário se torna voltar a uma época muito antiga, muito antes da presente existência, período em que não haviam os planetas, nem as luas, e, portanto, nem o "tempo existia", porque o homem ainda não havia se materializado...
Nesse período só existia o Sol.
Tudo o que existe hoje, todos os seres, tanto os grandes como os pequenos, tudo estava dentro do Sol.
Os seres viviam em harmonia, unidos num mesmo ideal, e formavam uma Unidade... Nessa época existiam todas as ondas de vida que existem hoje, os anjos, arcanjos, a humanidade, (em germe) os espíritos que animam os animais e ve-getais, e a vida fluía, dentro desse grande Espírito, que é chamado o Pai, de forma tranqüila, harmoniosa e serena... Contudo Deus sempre concede aos seus filhos o "livre arbítrio" e alguns espíritos "desobedeceram" as leis... Nessa época a vida era diferente dos dias de hoje. O que um espírito sentia, todos também sentiam... Então, se um espírito cometesse um único erro, por menor que fosse, todos eram responsáveis e culpados! Esses espíritos, que desobedeceram, se juntaram, como numa espécie de "motim", ou "complô", e formaram um único Ser separado de todos os outros, e esse Ser deu origem ao planeta Saturno. Foi aí que nasceu o "espírito de separatividade", e é por esse motivo que a influência de Saturno sobre o homem faz com que ele seja extremamente separado dos ou-tros, egoísta, avarento, econômico, quieto (não gosta de expor-se), isolado... E também é por essa razão que Saturno possui em volta de si um anel, como se ele estivesse "algemado"... Saturno é um planeta que está permanentemente atraindo para si tudo o que pode, porque essa é sua índole, seu caráter. Daí o fato de, na Mitologia, ele ser caracterizado como o "devorador". E, segundo os ensinamentos mais secretos do Ocultismo, que só recentemente vieram à luz, todo o espírito que não "despertar", não "acordar e lembrar-se de si", como Espírito em evolução, e não trabalhar sobre si, primeiro é caçado pela Lua (Diana, a caçadora, na Mitologia). Depois é enviado para Saturno, onde ficará "preso" até surgir uma possibilidade de ele continuar sua evolução num futuro muito distante... Segundo Gurdgieff, "Aqui na Terra estamos sujeitos a 48 ordens de leis; na Lua a 96" e, com certeza, em Saturno, todo o espírito que para lá for estará sujeito a 192 ordens de leis... O Ocultismo afirma que é para lá que vão os magos-negros e os assassinos irrecuperáveis.
Da mesma forma que um fazendeiro, quando percebe que um animal está doente, isola-o, para evitar que ele contamine os outros, assim o Pai teve que "isolar" essa classe de espíritos que havia desobedecido, isto é, transgredido as leis; juntá-los num único corpo e expulsá-lo do Sol. Foi aí que se formou Saturno. Um dos primeiros planetas arrojados da imensa "Bola Ígnea". (o primeiro foi Urano). E como dentro de uma sociedade, se um grupo se revolta, tentará de todas as formas arregimentar outros indivíduos, com a finalidade de crescer e se fortalecer cada vez mais, assim Saturno continuou "atraindo" para si os seres que se rebelam e contrariam as leis de Deus, pela desobediência voluntária. Essa índole revolucionária, que incita o indivíduo a rebelar-se contra todos e contra tudo, é proveniente das influências de Urano – "O primeiro Rebelde". E o único antídoto contra essa situação é Júpiter.
Os ensinamentos tradicionais do Ocultismo e da Magia dizem que o homem tem todas as possibilidades de vencer a velhice e a morte... Há, na história dos grandes magos e ocultistas, homens que permaneceram jovens por centenas de anos... Eram vistos em vários países e em várias épocas sempre com a mesma idade. A verdade é que, de acordo com a Psicologia Esotérica, o Universo não é uma máquina gigantesca feita por imensos globos de matéria incandescente (as estrelas) ou frias e opacas (os planetas, cometas, meteoros e luas) mas sim, de seres vivos, inteligentes, com sentimentos, sensações, pensamentos; comunicam-se uns com os outros, e também com o homem, através de "emissários". E que nascem, vivem, morrem, e também crescem, se transformam, e evoluem... E da mesma forma que o homem tem que respirar e alimentar-se para viver, esses seres gigantescos também se alimentam de outros seres menores. O homem come alguns minerais, vegetais e animais para manter-se vivo, e os seres gigantescos, as Estrelas e os Planetas, também se alimentam de seres menores, e nós diríamos que o homem é um dos alimentos mais saborosos e cobiçados do universo!
Isto significa que o homem, enquanto não acordar, enquanto não despertar desse estranho sono em que vive; enquanto não entrar numa verdadeira Religião, ou Escola Esotérica, enquanto não trabalhar sobre si mesmo e praticar os ensinamentos sagrados provenientes dos grandes mestres, que alcançaram a libertação, não passará de um simples alimento... Ele come para viver, e é comido, naturalmente, sem que nisso não haja injustiça alguma!
E agora é de se perguntar: Qual a maneira mais prática de se libertar das influências ou dos domínios de Saturno? Ora, se Saturno representa, entre outras coisas, o tempo, uma das formas de se libertar dele é "desprender-se do tempo". Desligar-se do passado, do futuro... Viver o momento presente, com atenção, alegria e sem emoções negativas... Manter a mente voltada para assuntos abstratos tais como o estudo das filosofias em geral, da matemática, da geometria. E o que é mais importante: o antídoto contra Saturno é Júpiter. Portanto, para o homem libertar-se dos domínios de Saturno deve cair, voluntariamente, sob as influências de Júpiter, e sobre isso falaremos mais adiante.
Mas antes de falarmos de Júpiter, temos que esclarecer mais alguns pontos obscuros sobre Saturno.
Saturno é considerado na Astrologia como o "Grande Maléfico" (Júpiter é o "Grande Benéfico").
Segundo a Astrologia, Saturno é o planeta que obstrui, cerceia, bloqueia... É ele que produz no homem o sofrimento, as dificuldades, as privações e provações. Ele gera pobreza, miséria, penúria... Produz doenças, enfermidades. Ele torna o jovem velho, e o velho, um cadáver ambulante... Ele traz tristezas e preocupações. Na verdade, esta é uma maneira de ver Saturno pelos olhos da Astrologia, isto é, na linguagem dessa ciência. Porém, Saturno, como um dos "Filhos de Deus", um grande Ser em evolução, muito mais evoluído que o homem, de um nível muitíssimo mais superior, não poderia nunca ser considerado um ser maléfico, ao contrário, ele, como todos os outros planetas do nosso sistema solar, só poderia ser considerado um "colaborador", um dos grandes benfeitores e auxiliares da humanidade. Certamente é o homem que cria seus problemas, dificuldades e sofrimentos, devido a sua ignorância, inconsciência, abuso e falta de domínio próprio. Saturno age apenas como o "Cobrador de Deus", aquele que vem para cobrar as dívidas do Destino...
Diríamos que Saturno é a Lei. A lei do "olho por olho, dente por dente". Qualquer homem encarnado, isto é, preso a um corpo físico, estará sob as leis de Saturno. Terá que "trabalhar duro" para ganhar o pão de cada dia; terá que pagar todas as suas dívidas... Não há como fugir... Terá que arcar com as responsabilidades de todos os seus atos, pensamentos, sentimentos, palavras... Se abusar das leis da natureza adoecerá; se exagerar ou extrapolar em suas atitudes diante da vida e da sociedade será punido, irrevogavelmente...Estará sujeito ao tempo, ao frio, as intempéries, a chuva, a neve...(No Olimpo, reinado de Júpiter, não há nada dessas coisas...)
Saturno, como tudo em geral, tem dois lados. Um negativo, outro positivo. Até agora quase só falamos do seu lado negativo. Vamos falar agora um pouco do seu lado positivo.
No seu lado positivo ele gera a prudência, o senso de economia, a frugalidade, o silêncio, a discrição, o recolhimento, a concentração, a paciência, a experiência, a sabedoria, a capacidade de aquietar-se e esperar..
O signo de Capricórnio, a "Cabra", é onde ele tem sua força, seu domínio e reinado...
Algumas religiões e tradições esotéricas tradicionais afirmam que o Tempo é Deus. Então, se o tempo é divino, Saturno, o pai do tempo, ou o próprio tempo, não poderia ter nada a ver com Satanás, como já referido acima, porém, por incrível que pareça, a própria Bíblia diz que esse Ser foi gerado por Deus, e depois rebelou-se... Se ele foi gerado por Deus, é divino... Se rebelou-se, é porque o próprio Deus lhe deu essa possibilidade. E com certeza absoluta, um dia ele vai regenerar-se e passar a trabalhar a favor da Obra Divina, porque esse é o destino de todo o ser criado por Deus. Ele tem o direito a rebelar-se, desobedecer, mas também existe o "castigo", a punição, e a possibilidade de uma recuperação.
Agora é bom tratar de Júpiter.
Ele é o oposto de Saturno, como seu próprio símbolo indica.
Ele é expansivo, otimista, alegre, social, comunicativo, generoso, benfazejo, espírito esporti-vo, sorridente, simpático, radioso, libertador...
Adora reuniões e festas. Seu mundo é belo, harmonioso, organizado... Ama o que é limpo e de boa procedência... Note-se que ele criou o Olimpo, que literalmente quer dizer – O Limpo.
Nunca é demais repetir que Júpiter é o antídoto contra Saturno.
E o mais interessante é que Júpiter é filho de Saturno.
Aqui há uma lei oculta que precisa ser esclarecida.
Pode-se afirmar que o Bem é filho do Mal, isto é, do mal nasce o bem... Diz a Mitologia que a Noite gerou o Dia.
O Tudo nasceu do Nada...
Veja-se como funciona essa lei.
Um homem comete muitos erros na vida. Vive desbragadamente. Gasta mais do que ganha. Briga com todo mundo, com a mulher, os filhos, os vizinhos, os parentes... Mete-se em mil falcatruas. Enche-se de dívidas. Fica doente... Cai no desespero! Chega ao fundo do poço!
Nesse momento de desespero pede socorro a Deus (ou ao diabo, não importa...) O fato é que ele pede ajuda. E, como disse o Salvador: "Ao que pede, ser-lhe-á dado.""Procurai e achareis..Batei e abrir-se-vos-á".
Então, de alguma forma ele é conduzido a uma Religião, Grupo ou Organização Espiritualista. É aí que nasce as possibilidades da entrada das influências de Júpiter em sua vida.
Se ele antes estava no mal, agora está no caminho do Bem.
Se ele não chegasse ao "fundo do poço", não procuraria uma "tábua de salvação".
Há homens que nunca estudam nada. Nunca lêem a Bíblia, ou um bom livro. Nunca param para pensar em sua vida, refletir ou meditar. Só quando ficam doentes e vão parar num hospital é que passam a fazer tudo isso. Então é de se concluir que, se a doença é um mal, ela gera o bem...
Na Bíblia há inúmeras passagens que falam ocultamente dessa lei.
Por exemplo. Moisés fez brotar água da rocha...(água, o bem; rocha, o mal.)
Fez cair o maná no deserto...
Sansão tirou do comedor a vida, e do bruto a doçura... (Ele estava passando por um lugar inós-pito e selvagem e foi atacado por um leão. Matou-o, tirou-lhe a pele, e prosseguiu sua viagem. Meses depois, de volta, estava faminto, com sede, e encontrou o esqueleto do leão. No seu crânio havia uma colmeia de abelhas. Ele deu um jeito de sugar-lhe o mel e desta forma alimentou-se, nutriu-se e saciou a sede).
Se a humanidade não tivesse descido tão baixo, Cristo não teria vindo até ela...
Então é de se deduzir que a Religião (Júpiter) nasce do sofrimento (Saturno).
Já foi afirmado que o homem comum, sem Religião, sem meta na vida; o homem mundano, por assim dizer, é um caos ambulante.
Ao entrar numa Religião, ou Escola, ele se dá conta que possui um corpo físico e precisa aprender a dominá-lo. Nascem, então, em seu interior, os ideais, os anseios e os anelos espirituais. Todavia, ele está sujeito a cair vítima do fanatismo, simbolizado pelos Ciclopes, que possuem um só olho na testa...Ao mesmo tempo que a Religião o tira do mundo, o aprisiona. Cerceia sua liberdade; limita seu pensamento. Gera em sua mente preconceitos, limitações; isto significa que mesmo dentro da Religião, ou Organização Esotérica, ele ainda não se libertou totalmente de Saturno.
A Religião o ajuda a organizar seu mundo, porém não o liberta.
Somente Cristo poderá fazer isso. (Júpiter, de certa forma, prepara o homem para a vinda de Cristo).
Como vimos anteriormente, Réia, a mulher de Saturno, chorava o tempo todo.
Uma das características do homem "escravo de Saturno" é a sua falta de alegria. Por mais que ele se esforce, cai sempre na angústia e na tristeza. Vê o tempo passar e nada de bom lhe acontece... Vive permanentemente adiando. Preso ao passado... Preocupado com o futuro...Sempre correndo atrás do dinheiro!
Sente dentro de si um vazio, uma saudade de algo indefinido. Está sempre com medo de doenças, do desemprego, da velhice e da morte...
Só sabe queixar-se e reclamar de tudo...
Não empreende nada porque acha que nada que ele faça dará certo.
E para passar o tempo, e fugir da realidade, mergulha em conversas intermináveis sobre tudo; política, filosofia, religião, futebol, custo de vida, fofocas... Tudo isso regado com uma boa cervejinha.
Ou então torna-se um viciado em televisão!
Passa os dias e as noites vendo os noticiários, as novelas, os filmes...
Ou vira um maníaco por livros. Mergulha em leituras e mais leituras...
De vez em quando tem consciência do absurdo que é sua vida e chora... Passa dias e dias chorando pelos cantos...
Na Psicologia que estudamos afirma-se que o homem comum está "dormindo", ou "morto", mas que pode ser "acordado" ou "ressuscitado". E que existem certas influências provenientes do Alto, as quais são "semeadas", jogadas no torvelinho da vida, misturadas as coisas supérfluas, com o único objetivo de ajudá-lo a despertar. Essas influências são chamadas "Influências B".
O homem recebe três tipos de influências.
A primeira, chamada de "Influência A", é proveniente da vida comum e mecânica. Vem através do cinema, teatro, literatura em geral, pseudo religiões, rádio, televisão, grupos sociais, etc. , enfim, tudo o que leva o homem a distração, ao divertimento, a fugir de si mesmo, a cair no comodismo, etc.
A segunda, chamada de "Influência B" provém das influências "C", que serão vistas depois.
A influência, a "B" possui caráter mais sério, objetivo e tem como finalidade mostrar ao homem que existe Algo Superior, um outro mundo diferente do mundo comum e vulgar. Ela chega até ao homem através das verdadeiras obras de arte, através das Religiões, dos Livros Sagrados, tais como a Bíblia, o Talmud, da Mitologia... Provêm, também, das antigas Religiões Tradicionais, das antigas Escolas de Mistérios, Escolas de Filosofias, de Arte, Música, Medicina, etc. O objetivo principal da influência "B" é criar no homem um "Centro Magnético", isto é, um desejo intenso de libertar-se da situação caótica em que vive, de melhorar, modificar-se, despertar do estranho sono em que vive mergulhado, evoluir... Buscar uma verdadeira religião ou Escola.
E a terceira influência, chamada influência "C", é a que provem diretamente do contato com homens evoluídos, iniciados, que atingiram um elevado nível de ser e estão despertos. Só pode ser absorvida dentro de uma verdadeira Escola ou Religião, depois de um longo tempo de preparo. Não há a menor possibilidade de ser alcançada na vida comum, através de livros, televisão, cinema, religião popular, palestras, simples conversas na rua ou em lugares públicos.
Vimos que Réia vai consultar um oráculo.
Isso simboliza o homem indo assistir algum culto religioso, ou visitando uma Escola Esotérica, ou Organização Espiritualista.
Nesses lugares lhe dizem que há possibilidade de libertação. Há um caminho, um "atalho", uma saída, uma "luz no fim do túnel"...
Se ele acreditar nisso, levar a sério o que lhe dizem, e passar a freqüentar a Escola, ou Religião, sua alma logo iniciará um processo de mudança e transformação... Começará a ver o mundo com outros olhos.
Verá um mundo mais colorido.
Prestará atenção ao "nascer do sol"... Olhará o azul do céu, as nuvens, a beleza das árvores, das flores...
Sentirá uma alegria na alma e esboçará um sorriso de felicidade nos lábios, porque encontrou um Caminho.
Sua alma, agora, está grávida!
Grávida de Júpiter.
Grávida de um futuro melhor.
Grávida de esperança.
O homem, então, começará a "sonhar". Não sonhos tristes, pesadelos, mas sonhos de melhoria!
Sonhos de vitória, libertação, de progressos, realizações!
Fará novas amizades.
Terá novas possibilidades.
Antes sua mente, seus pensamentos vagavam a esmo, sem direção, sem meta...
Agora eles tem um ideal, um alvo, um objetivo...
Tudo, em sua vida, começará a girar em torno de um único eixo, ou seja, de sua nova Religião ou dos ensinamentos de sua Escola ou dos ideais de sua Irmandade.
Júpiter, na verdade, representa o CENTRO-MAGNÉTICO.
Por essa razão Júpiter manejava os raios e os relâmpagos.
Que são os raios e os relâmpagos?
São seus "Lampejos de Consciência" que surgem como relâmpagos na noite de sua ignorância. E os raios são os "choques" que ele leva na vida, cada vez que vê-se diante de acontecimentos incomuns, tais como a morte, tragédias, desgraças, ou então momentos de grande felicidade, como o nascimento de um filho, ou a cura de uma doença tida como incurável. Esses choques geram nele momentos de Consciência...
Para que Júpiter nasça Réia tem que descer do céu e vir para a Terra... Isso significa que o homem tem que sair da teoria e entrar na prática. (Céu,- teoria, terra, - prática.) Mas suas práticas tem que serem feitas secretamente, ocultamente... (As grutas onde Júpiter nasceu e foi criado.)
Saturno dormia quando Réia desceu do céu para dar a luz.
Para que Júpiter "acorde" Saturno (Satanás) tem que "dormir..."
Para que Júpiter nasça Saturno tem que aquietar-se.
Isto é, o homem tem que deixar de ser materialista, pessimista, frio, complexado... Tem que parar de pensar mal; libertar-se do passado...
Saturno representa o "homem velho", e Júpiter o "Homem Novo".
Quando Júpiter nasce Réia precisa de água. Suplica a Terra que a ajude, e imediatamente nasce uma fonte de águas cristalinas ao lado do recém-nascido.
Esta é uma indicação clara de que quando o homem está no Caminho, sempre terá como saciar sua sede de conhecimentos; sempre terá uma "fonte de águas limpas" ao seu lado (um ensinamento puro, aulas, lições). Basta pedir, solicitar ajuda, perguntar...
Júpiter nasceu sorrindo. Representa a alegria que o homem sente quando está num Verdadeiro Caminho.
As grutas onde Júpiter nasceu e foi levado pela Ninfa ficavam no meio da floresta.
Isto representa um contato direto com a Natureza.
O homem, para melhorar sua situação espiritual deve amar a Natureza. Procurar lugares onde haja muito verde, muito ar puro, muito sol, pessoas simples, naturais...
A Cabra Amaltéia, que lhe sustentava com leite puríssimo significa a Religião, ou Escola da qual recebe ajuda. Amaltéia, em grego, quer dizer: GENEROSIDADE DIVINA. "Amal" vem da mesma raiz da palavra "amar" e "téia" provem de "theo" (deus), significando : "Amor Divino".
Júpiter também se alimentava de mel silvestre.
As abelhas que produzem o mel simboliza o "Trabalho em Grupo."
O mel é extraído da flor.
Esotéricamente flor quer dizer "Chacra", "Centro de Percepção Espiritual"
O trabalho sobre os Centros (flores) produz o ‘mel", isto é, um alimento puro, doce, e é através desse alimento que o Centro Magnético se forta-lece.
Quando fazemos um trabalho positivo nos Centros – (Intelectual: estudo; Emocional: sentimentos e motor: movimentos) temos uma sensação de prazer, um gozo, uma doçura na alma e essa doçura é como um mel perfumado que nutre, alimenta e fortalece nosso Ser!
O choro de Júpiter bebê era como uma melodia...
Quando o homem está no Trabalho e se esforça de verdade às vezes derrama lágrimas, mas não de tristeza, ou angústia, e sim, de devoção, de alegria muda... Já não se queixa mais ou reclama. Ao contrário, agradece... Agradece continuamente ao Pai Infinito pela graça de estar no Bom Cami-nho.
Para abafar o choro de Júpiter são convocados os Curetes, guerreiros dançarinos.
Isso representa uma clara alusão aos MOVIMENTOS.
Não existe Trabalho psicológico completo sem atividades do Centro Motor.
O homem que está no Trabalho deve praticar algum esporte, ou um "jogo" no qual use seus músculos. Pode ser exercícios físicos, corrida, caminhada, natação, artes marciais, andar de bicicleta ou até mesmo dançar ao som de música...
Não há nada melhor para a saúde do corpo do que uma boa dança ao som de uma linda música.
Toda Escola, ou Religião, sem atividades físicas, sem movimentação do corpo é incompleta e produz desequilíbrios.
É por esse motivo que as igrejas, tanto protestantes como católicas estão inserindo danças e movimentações rítmicas em seus ritos e trabalhos públicos.
Uma Religião ou Organização esotérica, na qual as pessoas permanecem apenas sentadas ouvindo um "mestre", pastor ou padre falando, e nada mais do que isso, não realizará um trabalho completo... Pode até ser muito útil para a meditação, concentração, oração, formação de uma "Egrégora", ou Corrente Espiritual, Cura magnética, psicológica, esclarecimentos, limpeza do subconsciente etc. Porém, se o indivíduo não praticar alguma espécie de atividade física, ou movimentos com o corpo, sempre sentirá que lhe falta alguma coisa!
A maior parte das religiões e organizações espiritualistas modernas desenvolvem apenas um ou dois lados do ser humano. O mental e o emocional –(mente e coração). Algumas só desenvolvem o lado mental, ou seja, aquelas que se dedicam ao estudo, pesquisa, leitura de livros, palestras etc. Outras só desenvolvem o lado emocional tais como as igrejas em geral, tanto as católicas como as protestantes.
A Fraternidade Rosacruciana desenvolve os dois lados conjuntamente, portanto, pode ser considerada uma das mais completas. Quanto a parte física, relativa ao corpo, os Rosacruzes deixam a critério de cada estudante. Seu lema é "UMA MENTE PURA, UM CORAÇÃO TERNO E UM CORPO SÃO. E os instrutores da Fraternidade Rosacruciana aconselham aos estudantes a praticarem exercícios físicos tais com caminhadas, ginástica, natação, etc.
Já os grupos de Gurdgieff atualmente espalhados pelo mundo dão ênfase maior as atividades físicas: movimentos, trabalhos de campo, artesa-nato, atividades em sítios, fazendas, manutenção de ferramentas, aparelhagens agrícolas, agricultura, educação das crianças, limpeza, cozinha, alimentação, etc. E embora também se dediquem ao estudo tanto individual como em grupo das obras deixadas por Gurdgieff e práticas de exercícios psicológicos com depoimentos falados e escritos dos alunos, na verdade, a parte intelectual e emocional (mente e coração) é relegada a segundo plano. O autor fala com conhecimento de causa, pois freqüentou grupos de Gurdgieff durante muitos anos. Na Fraternidade Rosacruciana (Max Heindel) é aluno desde 1961.
São duas Escolas de alto nível e delas só tem a agradecer pelas maravilhosas experiências e ensinamentos extraordinários que recebeu.
Nas Escolas de Gurdgieff os instrutores forçam seus alunos a trabalharem duro, falarem o mínimo e praticarem o máximo.
Na Escola Rosacruciana incentivam o estudante a examinarem com atenção especial os Evangelhos, as obras de Max Heindel, principalmente o Conceito Rosacruz do Cosmos, as obras de Elifas Levi, Pedro Ouspensky, Astrologia, a praticarem muito a Oração Científica, exercícios de Concentração, Meditação, Contemplação etc. A evitarem a todo custo o álcool, o fumo e as drogas em geral, bem como a mediunidade e o hipnotismo. São extremamente discretos, frugais, desinteressados dos assuntos mundanos e não gostam de publicidade.
Voltando ao tema sobre Júpiter, as Ninfas que cuidavam dele eram seres femininos muito belos, suaves, amorosos, alegres, puros, dóceis e naturais.
Significa as amizades sinceras, os sentimentos fraternos, os abraços, apertos de mão, sorrisos, o bom convívio social que existe em todas as religiões e organizações espiritualistas.
São essas atitudes, esse lado social, alegre, amistoso que age poderosamente na alma do aspirante, do neófito, e vai aos poucos libertando-o das garras de Saturno (Satanás).
Júpiter também se alimentava de Néctar e Ambrosia, alimentos próprio dos deuses, capazes de conferir a qualquer mortal que os ingerir, juventude permanente, invulnerabilidade e imortalidade.
Esses alimentos eram trazidos por maravi-lhosas pombas brancas vindas de etéreas paragens e por uma magnífica águia de penas de ouro e re-presentam a energia que vem diretamente do Espírito! Pomba branca simboliza o Espírito Santo, e também a energia sexual acumulada e purificada, e a águia é o símbolo do Espirito Divino dentro do homem.
Cristo dizia: "Eu sou o pão da vida".
Somente a ligação permanente da Consciência do homem com sua parte mais elevada, ou seja, seu Espírito Interior (Deus dentro do homem) é que pode torná-lo imortal, invulnerável aos ataques das forças inferiores e conferir-lhe juventude permanente!
Dizem alguns mitólogos que as pombas e a águia que traziam o divino alimento ao pequeno Júpiter durante sua infância conversavam com ele, contando-lhe lindas histórias e foi a águia que falou à Júpiter sôbre a prepotência e tirania de seu pai Saturno e incentivou-o a destroná-lo qundo atin-gisse idade adulta.
Quando um homem entra numa Organização Espiritualista séria e põe-se a trabalhar sobre si mesmo de verdade, com paciência, persistência, ânimo, coragem, começa a ter um contato cada vez mais acentuado com a Divindade dentro de si, e isso o fortalece e vai criando dentro dele um CORPO chamado pela Psicologia Esotérica de "Segundo Corpo". Os Rosacruzes chamam esse corpo de "Corpo da Alma" e a Teosofia o chama de "Corpo Astral". Ele torna o homem imortal. (Pelo menos dentro do nosso Sistema Solar) Também quer dizer que os contatos íntimos da Consciência com o Espírito, geram momentos inesquecíveis. Isto é, "imortais".
Com os Curetes Júpiter aprende a manejar a espada e o escudo.
A espada é o símbolo da palavra. E o escudo é o símbolo da proteção e defesa psíquica. Toda a religião ou escola dá muita importância à palavra porque é através dela que o homem cai ou se levanta.
E os escudos dos Curetes nos quais eles batiam as espadas representam DEFESA, PROTEÇÃO.
O mundo em que vivemos é cheio de perigos. Por toda parte há "correntes negativas", "acúmulos de energias psíquicas inferiores"; pessoas invejosas, carregadas de ódio, francamente negativas; não resta dúvida que, no meio da multidão, existem pessoas obsedadas por entidades do baixo-astral. Indivíduos doentes psicologicamente; ladrões, viciados, isso tudo no lado visível do mundo. No lado invisível há coisas muito piores; demônios, legiões de elementais comandados por bruxos, feiticeiros e magos-negros. E se o homem não tiver como se proteger dessa horda demoníaca, perigosa, estará em situação muito triste e periclitante! Todavia, uma boa Religião ou Escola Esotérica, sempre fornece poderosos instrumentos de defesa. Através das Orações, Afirmações Positivas, fórmulas secretas, talismãs protetores, mentalizações de símbolos, palavras mágicas; além do mais toda Religião ou Organização Espiritualista cria uma Entidade Psíquica muito poderosa, que age no Astral, chamada Egrégora, que protege seus filiados e seguidores.
Convivendo dentro da Irmandade ou Escola o homem se fortalece psiquicamente; quanto mais ele colaborar com a organização mais será protegido, sem dúvida alguma.
Quando Júpiter atinge uma certa idade é enviado a um lugar onde só vivem sacerdotes e músicos.
Toda verdadeira Escola Esotérica ou Religião possui três círculos, três estágios, ou três etapas em seu método de ação. A primeira é mais exterior. É aquela que está em contato direto com o mundo profano. É formada pelos iniciantes, novatos. Aqueles que ainda não estão muito firmes, mas que se esforçam, se preparam para alcançar a firmeza e a estabilidade.
A segunda é formada pelos que já estão bem firmes e podem receber um alimento mais forte e realizar um trabalho mais sério.
E a terceira é formada pelos adeptos, os mestres, os instrutores e os Hierofantes.
Na primeira etapa de sua vida Júpiter esteve nas mãos das Ninfas e dos Curetes.
Nesta fase o neófito recebe atenção, cordialidade; é tratado com respeito, amor, dedicação, amabilidade; recebe o calor de uma boa amizade; é orientado, ajudado e também convidado a colaborar nos trabalhos rotineiros e burocráticos, na limpeza e manutenção do templo ou prédio onde funciona a Religião ou Escola.
Isso tudo é simbolizado pelas Ninfas e os Curetes.
Depois de um certo tempo ele é admitido definitivamente na Ordem. Passa para um grupo mais seleto, quase sempre esotérico, participando de reuniões secretas e aí ele recebe um treinamento mais eficaz junto com esclarecimentos mais abrangentes e mais diretos. Aprende a pôr-se em contato com sua parte mais divina e dela extrair mais forças e novos alentos para continuar sua caminhada. (Sacerdotes) E conseqüentemente aprende a manejar com mais domínio seus órgãos de percepção, seus centros, seus veículos. (Músicos)
No Ocultismo, na Magia em geral, usa-se muito a música.
A boa música tem o dom de transportar-nos para uma dimensão mais espiritual.
Diríamos que a música é poderosamente mágica, um veículo dentro do qual podem se manifestar entidades de outros planos suprafísicos. Se é uma música suave, tipo Ave-Maria, de Shubert, atrairá espíritos elevados. Se é violenta ou agressiva, tipo batuque, atabaque, atrairá espíritos mais apegados a Terra. Por isso que nas Organizações Espiritualistas mais avançadas usa-se muito a música estilo clássico, orquestrada, new-age, e nos terreiros de Umbanda e Candomblé usa-se os ritmos de batuque e atabaques, porque eles trabalham com espíritos mais ligados a matéria.
No esoterismo os Centros de Percepção do homem e seus veículos, às vezes, são simbolizados por instrumentos musicais.
Todos os instrumentos de sopro estão relacionados com a mente, o intelecto, a palavra. Os de corda com o coração, o sentimento, e os de percussão, com o Centro Motor.
Há músicas vindas do Oriente, outras vindas de monastérios europeus que falam diretamente aos Centros Superiores do homem.
Sobre a cabra Amaltéia, a Mitologia narra quatro fatos interessantes.
Ela amamentava Júpiter.
Com um dos seus chifres Júpiter fez a Cornucópia Sagrada.
Sua pele torna-o invulnerável.
E depois ela vira Constelação.
A cabra, em todas as tradições esotéricas, sempre simboliza a religião. Porque?
Primeiro. A cabra é um animal que fornece um leite muito fino e especial, ótimo para amamentar crianças. São Paulo dizia que aos seus discípulos mais novos ele dava leite, e aos mais antigos dava carne.
Segundo, ela fornece carne.
Terceiro, é um animal dócil, inofensivo, calmo, e alimenta-se de ervas do campo.
Quarto. É capaz de subir as mais altas mon-tanhas com relativa facilidade.
Toda Religião ou Escola Esotérica alimenta o homem espiritualmente e também o eleva a um nível mais alto.
O ser humano, psicologicamente, é uma criança que mal começou a engatinhar. Ainda não é capaz de andar com suas próprias pernas; tem que ser ensinado, conduzido, amparado e protegido.
A Cornucópia Sagrada é um símbolo de abundância, fartura e plenitude.
As Religiões, Escolas ou Organizações Esotéricas em geral possuem um poder mágico de crescimento, expansão, e quanto mais séria, mais justa, fiel e leal aos verdadeiros princípios divinos, mais são poderosas, auto-suficientes sempre tendo o necessário para sua sobrevivência, manutenção e continuidade. E todo o homem que entra para o seu círculo, por mais difícil e irremediável que seja sua situação financeira, logo sente uma melhoria geral em tudo. Rapidamente consegue pagar suas dívidas e estabilizar-se financeiramente. Não que a Religião ou Escola lhe forneça dinheiro, ou bens materiais. Mas, a partir do momento em que ele começa a praticar os conselhos e ensinos fornecidos pela Escola, ou Religião, torna-se mais frugal, responsável, com o pensamento mais firme, m otimista, mais econômico, menos esbanjador, e também atrai amizades mais positivas, e conseqüentemente, tudo melhora em sua vida familiar e profissional.
Quanto a invulnerabilidade, proporcionada pela pele da cabra Amaltéia, ela é adquirida por todo o homem que pratica regularmente e persistentemente os preceitos e regras da Organização ou Irmandade a que pertence. Quanto mais ele for um fiel praticante, mais estará guarnecido, protegido e imune aos ataques demoníacos...
E, finalmente, toda a Religião Verdadeira foi criada e sustentada por um ou vários homens santos que atingiram um alto nível de ser e, portanto, viraram "estrelas", eternamente brilhando no céu acima da humanidade. Tornaram-se verdadeiramente imortais como aconteceu com Moisés, Elias, Buda, São João Batista, Jesus, Pitágoras e outros.
Quando Júpiter atinge a idade adulta fica sabendo mais detalhes sobre as atitudes negativas do seu pai Saturno, da sua crueldade, tirania, etc. e resolve destroná-lo.
O homem, depois de ter entrado numa Religião ou Organização Esotérica passa por um longo período de preparação. À medida que o tempo corre vai se transformando e se fortalecendo. Torna-se mais calmo, mais tranqüilo. Adquire um magnetismo pessoal, uma fortaleza de ânimo, paz, serenidade que transparece em seus atos e atitudes. Contudo, o "homem velho" ainda está vivo dentro dele! Não morreu, e fará tudo para recuperar seu espaço! Às vezes ele surge de repente, quando menos se espera, e o atrapalha; então ele tem uma recaída. Volta para sua vidinha mundana... Porém, uma vez que a Centelha Divina foi acesa em seu interior, ela não se apaga mais... E o homem acaba sempre voltando a sua Religião ou Escola. Arrepende-se dos erros e faltas cometidos e recomeça tudo de novo! Os meses, os anos passam, e ele vai se fortalecendo cada vez mais. Um dia toma uma decisão poderosa e resolve acabar de uma vez por todas com o homem velho!
Conforme diz a Mitologia, Júpiter une-se com a deusa Metis, sua prima, a qual é muito inteligente e conhece muitos segredos de magia. Metis quer dizer, "Plano Hábil". Essa palavra é proveniente de uma raiz que significa medir, calcular, conhecer com exatidão...
No Trabalho Psicológico pede-se ao homem que estude, medite e observe-se a si mesmo. A Observação de Si faz ele tomar conhecimento de como é na realidade, e não como imagina ou sonha ser. Ele vai tirando fotos de si mesmo nas mais diversas situações de sua vida e aos poucos consegue formar uma interessante coleção de fotografias. Depois de algum tempo tem em suas mãos um bom material para estudo e exame. Na verdade, Metis simboliza a compreensão, o Entendimento Espiritual. Quando o homem adquire essa verdadeira compreensão, o homem velho já não tem tanto poder sobre ele, e aos poucos vai enfraquecendo, até perder toda sua força. E aí, como narra a Mitologia, Saturno vomita os cinco irmãos de Júpiter.
Esses irmãos de Júpiter são as novas qualidades, novas virtudes que o homem adquire. Cinco são os sentidos, e depois de um longo período de trabalho sobre si ele conquista uma nova maneira de ver, ouvir e sentir o mundo. Seus sentidos são literalmente limpos e desanuviados.
Aqui termina a Segunda Parte da Mitologia.
No próximo livro será apresentada a Interpretação sobre a história de Júpiter, o que o Olimpo representa Esotéricamente e o significado psicológico dele ter posto ordem na casa.